Pragmatismo no novo "Seria burrice atacar o Eduardo Cunha. Ele é útil para nós", diz Movimento Brasil Livre

Publicado em: 14/08/2015 20:40 Atualizado em: 15/08/2015 21:34

João Pedro Cavalcanti, coordenador do Movimento Brasil Livre, em Pernambuco, diz que, se a Petrobras estivesse privatizada, não teria tantos desvios, como aponta a Lava-Jato (Foto/divulgação)
João Pedro Cavalcanti, coordenador do Movimento Brasil Livre, em Pernambuco, diz que, se a Petrobras estivesse privatizada, não teria tantos desvios, como aponta a Lava-Jato
O Movimento Brasil Livre, que convoca os manifestantes a irem para as ruas a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), será realizado em quatro municípios de Pernambuco neste domingo (16). Orocó, Petrolina e Caruaru, além do Recife. O protesto também levará às ruas faixas contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas irá poupar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), acusado de ter recebido U 5 milhões em propinas, segundo informações da Lava-Jato. O movimento, que defende oxigenação na política e combate a corrupção, também usa estratégias antigas da política. Segundo o coordenador de Pernambuco,  João Pedro Cavalcanti, Cunha será preservado neste momento porque ele é “útil” ao movimento, por ser capaz de colocar em pauta os pedidos de impeachment conta Dilma. “A gente quer ele servindo a gente”, diz João Pedro. João Pedro ainda defende a privatização da Petrobras e diz que o PSDB faz oposição covarde, como se estivesse de “rabo preso”. O protesto contra Dilma acontece em Boa Viagem a partir das 9h30, em frente à Padaria, localizada no mesmo bairro. Veja abaixo a entrevista de João Pedro Cavalcanti na íntegra. Foi concedida por telefone à reportagem.

Há quatro movimentos que defendem o afastamento de Dilma. Por que vocês não estão se mobilizando juntos?
Aqui no Recife temos quatro grupos: Brasil Livre, que sou o coordenador, o Vem pra Rua, O Estado de Direito, e o Direita Pernambuco. Pela manhã, quem está convocando é o Vem pra Rua e o Brasil Livre, lá em Boa Viagem, na frente da padaria. À tarde, a partir das 14h, começam os outros movimentos. Na verdade, a gente tentou fazer uma coisa junta, mas esses dois movimentos são menores, são locais, eles preferiram à tarde, querem ter o protagonismo deles.

Quais as pautas do Brasil Livre?
A primeira pauta é o impeachment, é a saída de Dilma, baseada nas “pedaladas fiscais”, principalmente por isso. A justificativa que a gente levou para a Cunha no dia 27 de maio tem como principal movimento as pedaladas. Mas há uma incapacidade da presidente de saber o que acontece no seu governo, ela não sabe sobre o petrolão, a compra da refinaria de Pasadena, a Lei da Responsabilidade Fiscal. Não importa se o crime foi na eleição passada, o mandato é o mesmo.

Qual a estimativa de público?
Acredito que está acontecendo muita coisa nova, a nova prisão de José Dirceu… Vai facilitar que mais gente vá para as ruas. A gente considera esse governo ilegítimo, porque ele foi eleito baseado em mentiras. Hoje, esse governo só tem 7% de aprovação popular. Até os que votaram no PT reprovam o governo em virtude da enganação a qual foram submetidos. Estimo uma média de 20 mil pessoas participando.

Você não acha uma contradição pedir o impeachment de Dilma em frente à casa de Eduardo Cunha, que está sendo acusado pela Lava-Jato de ter recebido propina?
Não há contradição alguma. Nosso movimento é um movimento político, tem intenções políticas. Queremos interferir na política. Então, a gente não vai conseguir o impeachment sem ter o apoio. Como vamos colocar o pedido de impeachment sem Cunha? Seria burrice atacar Eduardo Cunha, enquanto que ele é o presidente da Câmara. Em nenhum momento, saí em defesa dele. Mas ele é útil  à nossa causa. A gente não tem porque estar batendo nele nesse momento. A gente quer ele servindo a gente. A gente vai bater de encontro a Renan Calheiros, que está se juntando ao PT. Vamos dizer para as pessoas pressionarem, irem à casa dele em Brasília, fazerem uma zoada na frente. Porque ele agora está ensaiando se juntar ao PT. A gente não é inocente de estar atacando uma pessoa que possa ser útil a gente, como Cunha. Nós não defendemos Eduardo Cunha. Eduardo é útil para os interesses do Brasil Livre no momento.

Como vocês têm analisado as declarações de Dilma, falando sobre “golpe”?
É puro marketing. Todo esse escândalo que está acontecendo é fruto do governo do PT. A crise da economia e da política é fruto do desgoverno do PT. A gente acha que não vai ter saída para a crise com Dilma Rousseff. Dilma não tem capacidade. Dilma e o PT não têm capacidade de fazer um ajuste econômico e político saudável. 

Vocês defendem a convocação de novas eleições ou querem que o vice-presidente assuma?
A gente defende o impeachment. Mas, se tiver cassação, se saírem Dilma e Temer, ótimo. O Movimento Brasil Livre é um movimento liberal. O impeachment está na Constituição, os argumentos que vêm para cima da gente, sobre a nossa oposição, são os mesmos usados por Nicolas Maduro, na Venezuela. Ele inclusive estava criticando os movimentos de oposição do Brasil, estava dizendo que tinha receio, porque isso ia afetar a Venezuela. Derrubando o PT aqui, isso vai afetar a Venezuela. Dilma apoia claramente a ditadura da Venezuela. O impeachment vai estar ajudando toda a América Latina e estar livrando a América das esquerdas totalitárias do foro de São Paulo. Para os que não sabem, o foro de São Paulo é uma organização criada na década de 90 que tem protagonistas da esquerda. O foro acontece anualmente e junta movimentos de esquerda, partidos de esquerda. Acho que até as Farcs também participam.

O que, especificamente, vocês propõe como alternativa para o Brasil?
É a proposta liberal. Defendemos que a própria sociedade se organize para defender as suas necessidades. A Petrobras estaria melhor das pernas se fosse uma empresa privada. Sendo a Petrobras uma empresa privada, ela seria mais eficiente, produziria mais, teria mais lucro, geraria mais emprego e venderia um produto mais barato. A população gastaria menos com gasolina e sobraria dinheiro para ser gasto como ela bem entendesse. Se a Petrobras fosse uma empresa privada, ela seria mais eficiente, produziria mais, teria mais lucro.

Em contrapartida às agendas de esquerda, que vocês combatem, quais são as outras pautas? Poderia dar exemplos?
Todas as nossas propostas são liberais e visam a redução do estado. O grau de intervenção do estado na economia tem que ser mínimo. Você vê o que está acontecendo com o Uber. Os taxistas querem manter o monopólio do transporte, querem a regulamentação do estado. Outra coisa… o transporte coletivo é uma verdadeira máfia entre as empresas e o estado, não tem concorrência. O Netflix está dominando o mercado de televisão, concorrendo diretamente com as empresas de TV a cabo, tanto que as TVs a cabo querem que haja uma regulamentação. As empresas que poderiam ser concorrentes e melhorar os serviços vão atrás do estado. Usam o estado contra a população. Todo dinheiro que é administrado pela mão do governo é mal administrado.A Vivo está querendo ir atrás das agências reguladoras porque está perdendo mercado para o WhatsApp, que permite fazer ligação gratuita. O WhatsApp oferece um serviço a mais, mais barato, está ameaçando o mercado, mas, ao invés de as operadoras oferecerem um serviço melhor, vão atrás do estado para garantir sua fatia. O estado é sempre o agente que a atrasa.

O que vocês acham das políticas sociais do governo do PT?
O governo arrecada trilhões de impostos, pega parte desse imposto e tem que prestar os serviços e tem que fazer assistência social. Entretanto, o que é usado nos serviços é uma mixaria perto daquilo que é desviado ou superfaturado. Não seria melhor se a população resolvesse os seus problemas?

Vocês recebem apoio do PSDB ou apoiam o PSDB, como os petistas acreditam?
De forma alguma. A gente acredita que o PSDB faz uma oposição irresponsável, muito frouxa, muito covarde. Dada a dimensão do PSDB, poderia estar tendo um protagonismo maior. Parece até que o PSDB está cheio de rabo preso!

Mas já há uma crítica ao PSDB por conta do radicalismo da oposição… como ficaria a governabilidade?
Primeiro, a governabilidade para o PT já não existe e não vai existir. O PT tem que cair fora. Quem assumir vai ter que assumir uma pauta de reformas mais responsável e, ai, é obrigação da classe política garantir a governabilidade. O que o PT não tem hoje? Não tem apoio político, nem popular, nem tão pouco moral. O governo acabou de ser eleito e está fazendo tudo contra o que prometeu. A pauta do movimento é só o impeachment. Depois que o PT sair, vamos empreender outros assuntos. A gente vai apoiar, por exemplo, a revogação do desarmamento. O deputado federal Raul Jungmann (PPS) é contra, diz que a campanha do desarmamento evitou 101 mil mortes, mas é impossível fazer esse cálculo. É puro marketing e enganação.

Vocês não acham que deveriam criar um novo partido?
Já existe uma movimentação nesse sentido. Acredito que algumas pessoas do Movimento Brasil Livre devem apoiar. Conheço várias pessoas que simpatizam com o Partido Novo, que está em vias de aprovação no TSE. Não somos nós que estamos criando, são outros pessoas. Mas simpatizamos com ideia do partido novo que vai surgir.  Aqui no estado já está sendo criado um diretório. O Partido Novo é contra a personalização da política, é a favor de que os candidatos defendam ideias. Só será permitido, por exemplo, que uma pessoa exerça dois mandatos. O Movimento Brasil Livre já elegeu um representante no Rio Grande do Sul, o deputado Marcel Van Hatten. Ele está no PP, mas acredito que vá para o novo partido.

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