Oposição Os gritos de insatisfação contra Eduardo Cunha Presidente da Câmara começa a enfrentar questionamento dos seus pares na Casa, mas dá mostras que ainda tem a maioria

Por: Julia Schiaffarino - Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/07/2015 15:13 Atualizado em:

Cunha sofreu questionamentos dos colegas pela forma como conduz a Casa. Foto: Luiz Macedo/Câmara dos Deputados
Cunha sofreu questionamentos dos colegas pela forma como conduz a Casa. Foto: Luiz Macedo/Câmara dos Deputados

Definido, e não poucas vezes, como um “trator”, seja por adversário, seja por aliados, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chega ao fim do primeiro semestre à frente da Casa com sinais de estremecido no comando. As insatisfações têm se proliferado principalmente pelo jeito “autoritário”, inclusive atropelando prazos e trâmites regimentais de maneira a fazer valer o que defende. Soma-se a isso a colocação em pauta de temas considerados, por muitos, como conservadores, bem como o não cumprimento de promessas feitas aos parlamentares durante a corrida para a presidência. No entanto, a virada na votação que deu a vitória à redução da maioridade penal mostra que ele ainda pode contar com a maioria da Casa.

Político sagaz, porém, sabe preservar a força que o levou ao cargo e fez dele protagonista na queda de braço entre Congresso e governo federal. Tanto é assim que são poucos os que se atrevem a externalizar abertamente suas queixas. Mas já houve resposta às contrariações, como na votação de um conjunto de temas da reforma política, sobretudo o Distritão, e a regulamentação das doações de empresas privadas para campanha, temas defendidos pelo presidente.

Os dois pontos foram derrubados em primeiro turno inclusive com a improvável união das bancadas do PT e PSDB. A reclamação era de que o presidente teria ignorado o trabalho da comissão da reforma política porque foi no sentido contrário aos dois itens. Para alguns, como o deputado Silvio Costa (PSC), é um sinal de que o “reinado” do presidente não está mais como era antes. “Ele perdeu gordura. Há queixosos inclusive entre os que votaram nele”, afirmou. 

Outros, como o deputado Betinho Gomes (PSDB), são mais ponderados. “Tem os que votaram nele e que mantêm questionamentos, porém nada que signifique um enfraquecimento. Ele tem a capacidade de refazer o caminho quando vê que pode ser derrotado”, comentou.

Protagonismo
Aprove ou não, todo parlamentar reconhece que Cunha tem conferido um protagonismo à Casa. “É importante reconhecer que ele é o principal responsável por essa dinâmica. Tivemos uma ditadura de MPs (Medidas Provisórias) por muitos anos e hoje essa pauta dá um protagonismo político importante”, comentou o deputado Tadeu Alencar (PSB). O socialista não votou nele, ao contrário do deputado Medonça Filho (DEM). “Ele rendeu à Câmara visibilidade e autonomia e forca política que não tínhamos até então. Isso é indiscutível para a oposição”.


Atropelos de prazos
Se por um lado o estilo workaholic de Cunha contribui com o protagonismo adquirido pela Câmara, por outro, gera desconforto ao atropelar prazos, comprometendo, a discussão das matérias.  “Ele tem algumas virtudes, a celeridade que imprimiu nos trabalhos da Casa é uma delas. Mas isso não pode ser de maneira atropelada como tivemos em algumas votações”, reclamou o deputado Daniel Coelho (PSDB), que não votou nele. Eleitor de Cunha, Kaio Maniçoba (PHS) faz observação semelhante. “Acabamos tendo que votar algo que não era ideal”.


Desrespeito 
A dissolução da comissão que analisava a reforma política por discordância do relatório do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) e posterior envio do texto a plenário com entregando a relatoria ao aliado deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) gerou uma insatisfação contra Eduardo Cunha ainda não diluída na Casa. O gesto foi visto como autoritário e teve como resposta a primeira grande derrota do presidente na Câmara, que não conseguiu aprovar as alterações que queria. “Tem que ter o zelo para esse comando não atropelar as prerrogativas”, considerou o deputado Tadeu Alencar.


Promessas
Há insatisfação por ainda não terem visto cumpridas promessas de campanha. “Ele foi eleito assumindo uma série de compromissos como promessa de cargos nos governo Dilma. Só que ele vendeu capim para ovelhas no pasto errado e está sendo cobrado por isso”, disse Silvio Costa. Em reserva outro deputado afirmou que Cunha tem trabalhado para garantir a manutenção de forças junto aos setores econômicos. “A questão da terceirização e as desonerações de folhas de pagamento foram articuladas contribuindo com isso”, falou sem querer se identificar.


Pauta
Cunha foi eleito com apoio do segmento evangélico e isso tem feito dele defensor de temas considerados conservadores como o estatuto da família. Em uma ocasião chegou a afirmar que na presidência dele a legalização do aborto não seria tema de debate. A própria redução da maioridade penal é vista como um “retrocesso” na contramão de países que discutem o aumento dela, como os EUA. “Quando se misturam as defesas da bancada religiosa com as pautas da Casa, isso gera um certo desconforto”, criticou o tucano Daniel Coelho. 


Temas polêmicos 
No primeiro semestre à frente da presidência do Legislativo, Cunha colocou à mesa pelo menos dois temas polêmicos relacionados à Câmara. O primeiro foi o corte de salário dos deputados que faltassem sessão. O segundo foi a construção de um complexo comercial no Congresso que ficou conhecido como Parlashopping, avaliado em R$ 1 bilhão. “As minhas divergências, que já expus, são em relação ao corte dos salários que não foi feito com regras claras e procedimentos que diferem da forma regimental”, afirmou Mendonça Filho.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL