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Falta de consenso: COP pode terminar sem manual climático

Falta de consenso em pontos-chaves dificulta redação do guia que explicitará como o Acordo de Paris será posto em prática. A produção do documento é o objetivo central da conferência das Nações Unidas que reúne representantes de 196 países

Publicado em: 13/12/2018 10:07 | Atualizado em: 13/12/2018 10:09

Passeata em Katowice: a cidade polonesa sedia a 24ªedição da conferência, que acaba oficialmente amanhã. Negociações seguem por mais um dia. Foto: AFP / Janek SKARZYNSKI
A  semana decisiva da Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ainda não avançou, e a preocupação de cientistas e organizações não governamentais é que o evento se encerre oficialmente amanhã — embora a negociação geralmente só acabe no dia seguinte — sem a finalização do “livro de regras”, o manual operacional do Acordo de Paris. O objetivo central da COP-24 é produzir esse documento, no qual os países devem explicitar como colocarão em prática os compromissos assumidos em 2015 na capital francesa.

Nas reuniões de alto nível, das quais participam os ministros de Estado dos 196 países signatários, as discussões estão travadas. Ontem, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, lamentou que, a dois dias do fim, “questões políticas-chave” não foram solucionadas. Discursando aos governantes, ele foi duro, insistindo que se unam para “terminar o trabalho”. “Perder essa oportunidade em Katowice comprometeria nossa última melhor chance de parar o avanço das mudanças climáticas. Isso não seria apenas imoral, seria suicida”, alertou. A COP-24 é o limite para a produção do livro de regras e, a partir da próxima conferência, que deverá ser realizada na Colômbia depois da desistência brasileira de sediá-la, as nações já precisam apresentar novos compromissos mais ambiciosos.

“Temos que puxá-los (os ministros) para que eles aumentem o nível de ambição e não termos um livro de regras de mínimo denominador comum”, afirma Fabiana Alves, especialista da campanha de clima do Greenpeace Brasil. Ela avalia que o discurso do ministro brasileiro do Meio Ambiente, Edson Duarte, foi insuficiente para demonstrar o interesse do país no avanço das negociações. “Ele se focou mais em questões domésticas e não tocou em assuntos relacionados à ambição necessária nesse acordo e nessa negociação”, afirma.

Líderes reunidos precisam definir medidas do compromisso firmado em 2015 para frear o aquecimento global. Foto: AFP / FADEL SENNA


No pronunciamento de ontem, Duarte ressaltou que o Brasil reduziu as emissões de carbono equivalente em 6 bilhões de toneladas entre 2006 e 2015, especialmente devido à queda, no período, do desmatamento da Amazônia. De 2015 a 2018, o país emitiu menos 3,9 bilhões de toneladas, segundo o ministro. Duarte também destacou que o país antecipou em 2017 a meta voluntária de emissões por mudança de uso da terra e florestas, prevista para 2020. O ministro afirmou que o mundo sofrerá graves consequências se as mudanças climáticas não forem freadas e disse que são necessárias “ações urgentes” contra o aquecimento do planeta. “O tempo urge. Todos temos de aumentar nosso nível de ambição”, discursou, mas sem se estender a respeito de pontos específicos das negociações do Acordo de Paris.

Veto a relatório
Uma das derrotas dos cientistas climáticos na COP-24 foi o veto à menção ao sexto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC. O grupo de 91 pesquisadores de 44 cidadanias elaborou o documento a pedido da própria Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UFFCCC), da qual a Conferência das Partes é o órgão máximo. Na publicação, que faz referência a mais de 6 mil estudos científicos, o destaque é a limitação do aumento da temperatura em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Os pesquisadores advertem que um crescimento maior trará impactos desastrosos para o planeta.

O texto final do Acordo de Paris diz que os países devem se esforçar para que e, preferencialmente, não mais que 1,5°C”. Porém, o sexto relatório do IPCC é incisivo quanto a esse limite. O documento, que deveria nortear as discussões de alto nível da COP-24 em busca de um livro de regras mais ambicioso, porém, foi vetado por Estados Unidos, Rússia, Kwait e Arábia Saudita no sábado. Pelas regras da conferência, basta um país vetar uma questão para que ela seja retirada das negociações.

Ex-vice-presidente do IPCC e cientista climático, Jean-Pascal van Ypersele lamenta os poucos avanços da COP de Katowice, na Polônia. “A melhor maneira de reconhecer o trabalho feito pelo IPCC é parar de discutir se o relatório será vetado ou bem-vindo e começar a levar a sério os dados apresentados. Isso tem de ser feito numa decisão da COP, o principal resultado de Katowice. E com uma clara referência, uma referência lógica, à necessidade de todos os países aumentarem seus níveis de ambição nas três áreas mencionadas no artigo 2 do Acordo de Paris: mitigação, adaptação e financiamento.”

“Perder essa oportunidade em Katowice comprometeria nossa última melhor chance de parar o avanço das mudanças climáticas. Isso não seria apenas imoral, seria suicida”
Antonio Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas
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