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Observatório econômico Bitcoin é moeda?

Publicado em: 17/12/2017 08:00 Atualizado em: 13/12/2017 22:27

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Nos últimos meses as referências a uma tal Bitcoin vêm se tornando cada vez mais comuns na mídia e tem atraído a atenção tanto de investidores quanto de curiosos ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Por se tratar de um ativo relativamente novo na economia mesmo especialistas tem consideráveis dúvidas sobre sua solidez e seu futuro, ao que se adiciona uma questão bem particular a respeito da ligação entre atividades ilícitas e a demanda por este ativo. Mas, afinal, o que é Bitcoin? É mesmo uma moeda? Representa o futuro em termos de transações do dia a dia?


Bitcoin é uma criptomoeda, um ativo digital que não tem correspondência no mundo real e que é gerado por um algoritmo computacional. A sua criação, em 2009, é atribuída ao australiano Craig Wright e a gestão do estoque global da moeda é feita através da tecnologia de blockchain, uma estrutura compartilhada em toda a internet dos registros de transação em Bitcoin que torna a mesma não rastreável. Por não ter contrapartida real nem autoridade monetária para garantir seu valor, o Bitcoin vale o quanto as pessoas acham que vale, e sua capacidade de realizar transações não rastreáveis ao redor do mundo é seu grande atrativo. E é moeda?

Ao contrário do que muita gente pensa, moeda é qualquer ativo que efetue as funções de meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Embora a moeda oficial do país seja a de maior liquidez, a que é trocada imediatamente por qualquer bem ou serviço, há sempre outros ativos que eventualmente servem como moeda em transações do dia a dia. O Bitcoin pode ser, desta forma, utilizado como moeda em intensidade que depende do grau de informatização das transações comerciais de cada país.

É o futuro? Por ter uma demanda que muitos entendem ser fortemente relacionada a atividades ilícitas, inclusive um Nobel de economia, a atual explosão no preço do Bitcoin é tida como uma possível bolha. E que bolha, o Bitcoin valorizou incríveis 124.000% nos últimos cinco anos, indo de centavos a 18.0000 dólares no seu lançamento na bolsa de Chicago em dezembro de 2017. Mas o caminho das transações em moeda virtual parece menos controverso, decorrência natural da redução de custos e maior praticidade destas transações no dia a dia. A velha carteira anda cada vez mais vazia, e até o cartão de plástico pode em um futuro próximo se substituído por digitais, leitura de íris, reconhecimento facial e outras tecnologias de autenticação de usuário.

Voltando ao Bitcoin, como é que um simples registro vira moeda? Em síntese, é uma questão de confiança, e a tecnologia não apareceu do nada. Em linhas gerais, considere por exemplo os serviços de pagamento na web, como o PayPal. Nestes serviços o cliente pode comprar créditos via web, e usar estes créditos para fazer pagamentos ou transferências, e eles já estão funcionando faz um bom tempo. As pessoas usam isto, e não diretamente o cartão de crédito, porque há seguros contra fraudes nas compras e, principalmente, porque podem fazer transações internacionais a margem dos sistemas de controle dos bancos centrais (sem taxas e sem registros). De forma rudimentar, podemos ver uma criptomoeda como um crédito de PayPal divisível e negociável.

E é seguro investir? Na teoria econômica dizemos que o ganho é diretamente proporcional ao risco que se corre, e os ganhos em Bitcoin estão em milhares de pontos percentuais. Some a isso o fato da demanda ser suposta estar lastreada em atividades ilícitas, além das suspeitas de bolha especulativa, e o cenário é bastante incerto. Façam suas apostas.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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