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Observatório econômico Barreiras comerciais

Publicado em: 15/10/2017 08:00 Atualizado em: 13/10/2017 20:05

Por André Magalhães (*)

André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Um dos princípios básicos de economia é o de que o comércio pode ser bom para todos. Quando cada país se especializa na produção de bens e serviços nos quais tem maiores vantagens relativas e troca com os demais há espaço para ganhos de bem-estar.

Por exemplo, o Brasil é um dos países mais eficientes na produção de açúcar. Dessa forma, conseguimos produzir um produto barato e conseguimos vender para o resto do mundo. A China é mais eficiente na produção de diversos produtos. É por isso que o mundo todo compra produtos chineses.

A teoria econômica, e os dados, demonstram que ao participar do mercado mundial os países ganham. Na verdade, sempre há ganhos e perdas no processo. No caso do açúcar, por exemplo, os produtores ganham com a abertura comercial ao vender para o resto do mundo. Os consumidores perdem, ao terem que pagar um preço maior, já que parte da produção nacional é exportada.

Quando um país é importador, o ganho é dos consumidores, que passam a contar com um produto mais barato. Os produtores perdem, ao terem que competir com um produto importado mais barato. O que os economistas têm conseguido mostrar é que a soma dos ganhos e das perdas, nos dois casos, tende a ser positiva para o país como um todo. Ou seja, os ganhos são maiores dos que as perdas.

E por quê os países não participam livremente do comércio internacional? Uma explicação simples a de que os produtores nacionais conseguem impor as suas demandas junto aos que decidem as regras das políticas. Por exemplo, o Brasil tem fortes restrições a importação de carros. Quem ganha com isso são as empresas aqui instaladas. Quem perde são todos os consumidores que pagam muito mais caros pelos carros. O mesmo ocorre com os computadores. Pagamos no Brasil quase o dobro do que um americano paga por um mesmo computador.

No governo Dilma diversos produtores conseguiram impor as suas demandas e criar restrições às importações. O argumento é sempre o mesmo: a defesa do emprego nacional. No atual governo a lógica continua. Nessa semana o Governo Federal decidiu proibir a importação de leite do Uruguai. O produto do vizinho é mais barato do que o nosso e tem vendido muito aqui. A proibição ajuda os produtores nacionais, mas afeta o bem-estar dos consumidores. Vamos pagar mais caro pelo leite.

É óbvio que o Brasil não é o único país a fazer isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Presidente Trump tem usado argumento do emprego nacional para forçar as empresas a voltarem para o País. Lá também a restrições a produtos importados. Vários outros países fazem algo semelhante. Isso torna a discussão mais complexa, mas a lógica básica é a mesma: as restrições comercias trazem perdas para a sociedade.

É aparentemente difícil argumentar contra a defesa dos empregos de brasileiros e em favor dos produtores estrangeiros. Mas não se trata disso. Deveríamos pensar em termos dos ganhos e perdas para a nossa sociedade. Restrições trazem perdas. Comércio traz ganhos. Alguém precisa começar a defender os consumidores.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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