Observatório econômico Quanto vale uma empresa

Publicado em: 04/09/2017 08:00 Atualizado em: 01/09/2017 17:39

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
A mais nova investida do governo federal em ressuscitar o programa nacional de privatizações trouxe à luz uma velha questão que intriga o cidadão comum, quanto vale uma empresa! O foco inicial tem sido a discussão sobre o valor da venda da Eletrobras, em torno de 10 a 20 bilhões para a União, mas com opiniões variando entre a dezena e a centena de bilhões Brasil afora. Afinal, como se calcula o valor de uma empresa?

Quando se considera um produto ou serviço qualquer temos que ele vale tanto quanto o consumidor acha que ele vale. No caso de uma empresa não é assim tão simples. Uma empresa gera fluxo de renda, uma empresa tem patrimônio, uma empresa gera expectativa de valor no mercado e algumas empresas tem ações na bolsa de valores. Em linhas gerais, e evitando os jargões dos analistas, uma empresa pode ser avaliada de formas diferentes de acordo com cada um dos pontos de vista acima. E quanto ela vale? A princípio o maior valor entre os estimados.

Complicado? É mesmo. O critério “mais aceito” na maioria dos casos é o do fluxo de renda descontado, ou seja, uma estimativa do valor atual de quanto ela vai gerar em sua vida útil. Observe que neste critério, contudo, não se considera o quanto se investiu na empresa e nem o valor de seu patrimônio atual, o que se considera é quanto empresa gera e o valor residual do patrimônio quando acabar sua vida útil. A ideia de valor da empresa pelo valor de seu patrimônio e/ou de seu investimento inicial é, contudo, a mais comum para a maioria da população pois é a forma como avaliamos nossa riqueza pessoal. É evidente que se a empresa vale mais pelo patrimônio que pela geração de renda ela deve ser vendida pelo valor patrimonial, porém, a maior parte das pessoas não se apercebe disto, isto implica que a empresa vai ser desmantelada para vender os pedaços.

Uma empresa também possui uma expectativa no mercado, e que pode ser catalisada por sua marca, levando a avaliações de mercado não balizadas em análise financeira, algo como o “eu acho que vale”. Este critério pode até ser comum em empresas pequenas, mas seria inesperado e até suspeito que uma empresa de grande porte fosse vendida assim. E há também o valor de mercado baseado no valor das ações negociadas, que incorpora a expectativa de retorno do papel com base em retornos futuros e valorização inclusive especulativa do próprio papel. Não é usual comprar empresas desta forma porque uma ação deste tipo, uma tomada agressiva por assim dizer, influencia o preço do papel especulativamente e acaba-se pagando mais caro. Um exemplo? Bastou anunciar a inclusão da Eletrobras no programa de privatização e ela valorizou R$ 9 bilhões em um dia.

Por fim, quando se consideram os métodos tradicionais de fluxo de renda e patrimônio precisamos incluir as dívidas da empresa, riscos jurídicos e passivos trabalhistas. Quando se faz isso é que se chega ao valor de venda, que é o maior deles. É evidente que se a dívida for muito grande e/ou não se tem recursos para garantir a manutenção dos fluxos de renda, pode perfeitamente acontecer de a venda ser a valores mesmo simbólicos. Empresas como a CELPA (Centrais Elétricas do Pará), Hopi Hari, Leader, dentre outras, foram vendidas por menos de mil reais recentemente para novos proprietários que acreditaram ter condições de reverter a situação. Em Pernambuco, outro exemplo, a venda da Petroquímica de Suape vem sendo contestada judicialmente por ter sido fechada a R$ 1,2 bilhões quando consumiu só em investimentos R$ 9 bilhões.

A empresa vale tanto quanto o mercado acha que ela vale, e esta estimativa depende de quanto ela pode gerar de lucro versus quanto ela vale vendida em pedaços, menos o valor de sua dívida e de seu passivo trabalhista. Não é romântico, não são as centenas de bilhões que alguns associam ao patrimônio nacional, mas é a realidade. Vamos no ater a realidade.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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