Observatório econômico Rigidez salarial e ajuste no mercado de trabalho

Publicado em: 20/02/2017 08:00 Atualizado em: 16/02/2017 20:39

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
O ano de 2016 foi um ano para se esquecer, em particular, para as famílias brasileiras, que viram seu rendimento cair e muitas enfrentaram e ainda enfrentam o desafio do desemprego.


De acordo com os dados da PNAD Contínua para o último trimestre de 2016, a taxa de desocupação alcançou 12% da força de trabalho, algo em torno de 12,3 milhões de pessoas. Esta mesma taxa tinha sido de 9% no mesmo período de 2015. Os dados revelam ainda que apesar disto, o rendimento nominal médio das pessoas ocupadas subiu 7,5% no último trimestre de 2016 na comparação com o mesmo período de 2015. Descontando a inflação, em termos reais, o rendimento médio subiu 0,5%.

Existem diversas razões porque as pessoas ficam desempregadas. Em primeiro lugar, é preciso dizer que sempre existirá desemprego e é bom que seja assim. E isto tem relação com o primeiro motivo para se estar desempregado: porque as pessoas querem. Esse é o chamado desemprego voluntário. Deixe-me explicar, quando você decide deixar um emprego, que considera ruim, em busca de uma posição melhor, nas estatísticas de desemprego, você será considerado desempregado. Quanto maior o tempo entre o emprego antigo e o novo, maior o tempo que você estará nesta situação. Há outros que, apesar de existirem vagas em determinadas posições, preferem não aplicar para aquela vaga. É o caso de um engenheiro desempregado, que prefere não trabalhar como motorista do UBER. E assim por diante. Todos estes são considerados desempregados, mas, no economês, são voluntários.

Há ainda os desempregados involuntários, aqueles que dados os salários disponíveis ou por salários menores, gostariam de trabalhar, mas que não conseguem encontrar uma vaga. Aqui estão os que não possuem as qualificações ou experiência necessárias para a vaga, quando ela existe, ou ainda aqueles que não encontram trabalho porque, simplesmente, “não há vagas”. O fenômeno “não há vagas” é obviamente mais comum em economias que passam por uma recessão, como é o nosso caso. Num mundo sem restrições, este fenômeno seria atenuado com uma queda no preço do trabalho (salário médio) e isto levaria a um ajuste no emprego, trazendo a economia para uma taxa de desemprego coerente com a sua estrutura (taxa natural de desemprego).

O fato é que inúmeras restrições impedem o ajuste dos salários e com isto dificulta a redução da taxa de desemprego. Sem querer entrar no debate normativo, a presença de sindicatos é uma delas, a regra constitucional que impede a redução dos salários nominais é outra. A regra de reajuste do salário mínimo e a pouca flexibilidade das relações de trabalho também dificultam esse ajuste mais rápido. O fato é que às vezes boas intenções na definição de políticas públicas acabam prejudicando exatamente aquelas pessoas que eram alvo da política. Restrições na flexibilização das relações de trabalho e dos salários nominais, acabando gerando mais desemprego e por mais tempo. É óbvio que todos queremos empregos com maiores salários, mas para quem está desempregado, ter um emprego, mesmo com salário menor, já seria um grande alívio. Como ouvi recentemente, as restrições no mercado de trabalho protegem os salários, mas destroem os empregos. Talvez seja hora de repensarmos isto.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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