Observatório econômico A necessidade de ser mais produtivo

Publicado em: 16/01/2017 08:00 Atualizado em: 12/01/2017 20:51

Por Paulo Aguiar do Monte (*)

Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
A falta de crescimento econômico e de expectativas positivas provocaram, em alguns meses de 2016, a queda da população ocupada (tanto no mercado de trabalho formal quanto informal) e o aumento da população inativa (provocada pelo desalento).  Apesar de ser um acontecimento singular, motivado pelo momento de conjuntura econômica que o país vivia, a queda na população ocupada no Brasil possivelmente se tornará a ser um fato mais comum nas próximas décadas. Isto se deve, basicamente, a queda da taxa de natalidade. A título de ilustração, em 1980, a taxa de natalidade brasileira era de 4,0 filhos por mulher e atualmente está em torno de 1,8 filhos - inferior a dos Estados Unidos. Isso indica, portanto, que em um futuro próximo teremos cada vez menos componentes na força de trabalho.


Antes de abordar o futuro, é importante descrevermos o presente. Hoje o Brasil ainda vive o período do “bônus demográfico”, que seria a redução da razão de dependência (proporção da população dependente, crianças/adolescentes/idosos, em relação ao número de pessoas adultas, em idade de trabalhar) no mercado de trabalho. Essa transição demográfica favorece o desenvolvimento econômico, já que o predomínio de pessoas capacitadas a produzir propicia mais reservas e aumento dos recursos disponíveis por indivíduo. No Brasil, esse fenômeno demográfico atingirá seu pico entre os anos de 2022 e 2023, quando deveremos chegar a 70% da população do país com idade entre 15 e 64 anos. A partir de então, a razão de dependência voltará a crescer e começará a ser fechada a janela de oportunidades demográficas. Com a redução esperada da força de trabalho, caberá ao país ser mais produtivo economicamente.

A produtividade do trabalhador brasileiro nas últimas décadas aumentou a taxas inferiores ao do crescimento populacional. Em recente estudo publicado pelo IPEA, os ganhos de eficiência produtiva da última década foram responsáveis por apenas um terço da expansão do PIB, sendo os dois terços restantes decorrentes do aumento da população ocupada. Em outras palavras, o país só cresceu porque havia mão de obra disponível para produzir. Comparativamente, segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), de 2002 a 2012, a taxa média de crescimento anual da produtividade brasileira foi de 0,6% enquanto a dos EUA foi de 4,4%. Hoje, a produtividade brasileira é de apenas ¼ da produtividade dos Estados Unidos.

A baixa produtividade da nossa economia é um fenômeno decorrente de múltiplos fatores. Somente uma reforma estrutural que contemple a melhoria significativa das condições de infraestrutura, o aumento dos investimentos tecnológicos e a redução dos trâmites burocráticos das empresas, associadas a um programa educacional de qualificação da mão de obra, poderá gerar um aumento consistente na produtividade do país. Com a perda (e a nossa incapacidade de aproveitamento) do bônus demográfico, o aumento da produtividade é a única saída que nos resta.

(*) Professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba.

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