Observatório econômico Pouca mobilidade Por Alexandre Jatobá*

Publicado em: 21/11/2016 08:00 Atualizado em: 21/11/2016 10:15

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto:Tiago Lubambo/Divulgacao
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto:Tiago Lubambo/Divulgacao
Entre as diversas linhas de investigação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o IBGE divulgou recentemente um estudo sobre a chamada “Mobilidade Sócio-Ocupacional” do país, a partir de dados da 2014. Em resumo, este estudo comparou a situação dos pais e filhos no Brasil, verificando o quanto foi possível aos filhos de pais mais pobres e/ou com menos formação educacional, evoluir em termos de renda e ocupação, em relação aos pais.

Inicialmente, a pesquisa mostra que 51,4% dos filhos tiveram ascensão sócio-ocupacional em relação à mãe (mobilidade intergeracional), ou seja, apenas pouco mais da metade dos filhos conseguiram melhorar em termos de renda e ocupação em relação à situação de suas mães. Quando comparado aos pais, a situação é um pouco pior já que apenas 47,4% ascenderam em termos sócio-ocupacionais em relação aos seus pais.

A pesquisa também mostra que o nível de escolaridade dos pais influencia diretamente o rendimento médio dos filhos, independente da escolaridade dos filhos. Ou seja, filhos de pais com mais escolaridade tendem a ter rendas maiores do que aqueles com menos escolaridade. A renda média de trabalhadores com nível superior completo era de R$ 3.078,00 para aqueles cujas mães eram analfabetas. Já para aqueles também com nível superior, mas cujas mães também tenham formação superior completa, a renda média era de R$ 5.826,00, isto é 90% superior. Sob a ótica da situação dos pais, a diferença é ainda maior. Trabalhadores com nível superior com os pais sem instrução ganharam, em média, R$ 2.603,00. Já aqueles com pais com nível superior ganharam, em média, R$ 6.739,00.

Ainda observando-se a questão educacional, nada menos que 73,9% dos filhos de pais sem instrução tinha renda igual ou inferior a 2 salários mínimos. Já para os filhos com pais com nível superior completo, o percentual de trabalhadores com renda igual ou inferior a 2 salários mínimos era de apenas 16,4%.

Outro dado interessante da pesquisa é que a grande maioria dos filhos de pais empregados em atividades que demandavam menor nível educacional (trabalhos agrícolas, trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção, vendedores e prestadores de serviço do comércio e trabalhadores dos serviços) começaram sua vida profissional bem mais cedo, iniciando suas vidas laborais até os 13 anos de idade, ou de 14 a 17 anos de idade.

De uma forma geral, a pesquisa mostra que, infelizmente, o país ainda está longe de conseguir propiciar oportunidades iguais para todos, independente da origem familiar. Aqueles com background familiar menos favorecido terá bem mais dificuldade de progredir em termos sócio ocupacionais.

Especificamente no que diz respeito à questão educacional, os dados reforçam que é preciso avançar muito em termos de qualidade do ensino e de formação profissional. Somente através de melhores escolas, faculdades e universidades será possível fazer com que o futuro dos filhos dependam mais da dedicação e esforço deles, do que do passado dos seus pais.

* Economista e diretor da Datamétrica

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