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Observatório econômico Novo mundo?

Publicado em: 28/07/2016 08:00 Atualizado em: 27/07/2016 20:24

(*) Por Carlos Magno Lopes

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
A saída do Reino Unido da União Europeia (EU), conhecida como Brexit, e uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas poderão resultar em um novo mundo, com profundas alterações na geopolítica e na ordem econômica mundial. As consequências são assusta-doras.


A estabilidade dos parâmetros que norteiam os rumos da economia, em princípio, é desejável, porquanto contribui para reduzir as incertezas e imprevisibilidades, que normalmente causam transtornos ao processo decisório dos agentes econômicos e volatilidade nos mercados. A desconfiança de mudança dos arranjos que moldam as relações econômicas entre países e regiões tende a se refletir em alteração do ordenamento vigente para um outro qualquer. Nesse contexto, duas questões parecem ser potencialmente capazes de criar ambiente propício para uma nova ordem econômica mundial: a saída do Reino Unido da União Europeia (EU), conhecida como Brexit, e uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas.

Um dos pilares da União Europeia consiste na aceitação por seus países membros de quatro livres movimentos: de trabalhadores, de bens, de serviços e de capital. A vitória do referendo que resultou na decisão da saída do Reino Unido da UE, ao que tudo indica, foi motivada, principalmente, pela rejeição da liberdade da movimentação de trabalhadores da EU pelos eleitores do Reino Unido, cuja maioria entendeu que a abertura do mercado de trabalho para outros países terminaria por reduzir o bem-estar dos trabalhadores britânicos, inclusive devido à gigantesca onda de refugiados na Europa. Discordâncias quanto algumas Diretrizes decididas por burocratas em Bruxelas, é verdade, também causaram insatisfações. O fato, contudo, é que o eleitorado de outros países, como Suécia e Holanda, dentre outros, parece cada vez mais hostil à livre movimentação de trabalhadores, fortalecendo a atuação política de grupos que defendem não apenas a separação de seus países da UE, como a exacerbação do nacionalismo. Caso prosperem esses movimentos separatistas, a Europa ficará dividida, tanto na política quanto na economia. Se confirmado, esse cenário certamente resultará em profundas alterações na geopolítica e na ordem econômica mundial.

A eventual vitória de Donald Trump nas eleições de novembro nos Estados Unidos, por outro lado, mantida as propostas de campanha, em contraste com um recente ex-presidente do Brasil, poderá descontruir preliminarmente a atual ordem econômica e a segurança mundial, a começar pelas ameaças de abandono pelo seu país da Organização Mundial de Comércio (OMC), além da própria Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Perguntará o assustado leitor: “Trump não é um fanfarrão? Será que esse discurso não é só para ganhar a eleição?” Sim, Trump é um bisonho bilionário (nessa ordem), por isso mesmo tornou-se um líder. Se irá fazer o que diz? Se fosse no Brasil, a resposta seria não. Ele pode até querer. Acontece que os Estados Unidos não são o país da boquinha, dos cargos comissionados, de diretoria de estatal e das militâncias. Afinal, os founding fathers pensaram em tudo, inclusive em Trump.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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