Mudança "E do Levy, você gosta?", pergunta Lula a Dilma Henrique Meirelles, apontado como sucessor do ministro da Fazenda, já age como se estivesse no governo, convocando políticos para discutir problemas da economia

Por: Antonio Temóteo

Publicado em: 11/11/2015 08:02 Atualizado em:

Pronto para assumir o Ministério da Fazenda, em substituição a Joaquim Levy, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles já está agindo como se fizesse parte do governo. Ele vem se encontrando sistematicamente com políticos da base aliada, sobretudo do PT, para discutir fórmulas que podem tirar o Brasil da grave recessão na qual mergulhou devido aos erros cometidos nos últimos anos pela presidente Dilma Rousseff.

Meirelles sentiu-se encorajado para mostrar a cara diante do aumento da pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre Dilma, para que ela demita Levy e o nomeie para o comando da equipe econômica. Pessoas próximas aos petistas confirmaram ao Correio que em um dos recentes encontros com Lula, a presidente disse que não gostava de Meirelles. “E você gosta do Levy?”, retrucou o líder petista. Segundo interlocutores palacianos, Dilma teria se calado ante a indagação de Lula, mas continuaria resistente em fazer a troca. Ela sabe, porém, que precisará enfrentar os problemas econômicos para manter a pouca sustentação que ainda possui e para isso pode ser obrigada a engolir a mudança.

A presidente também está ciente de que Levy está disposto a deixar o governo. Ele só não entregou a carta de demissão ainda porque não quer sair como derrotado e com a responsabilidade pela maior recessão em 80 anos — desde 1930 e 1931, a economia brasileira não registra dois anos seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB). A amigos, o ministro tem ressaltado que a pressão de Lula e de petistas para a sua demissão se acentuou depois que investigações contra o ex-presidente e a família dele se tornaram públicas. As investigações vêm sendo conduzidas pela Receita Federal e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgãos ligados à Fazenda.

As rusgas de Dilma com Meirelles vêm da época em que ela ainda era chefe da Casa Civil. Em todos os debates
convocados por Lula para discutir mudanças na economia, as ideias do ex-presidente do BC prevaleceram sobre as dela. E isso sempre irritou a presidente. Um assessor do Planalto detalhou que Lula espera convencer a chefe do Executivo de que o único caminho para salvar o país de um colapso é apostar em medidas que possam estimular atividade, sobretudo a liberação do crédito. E Meirelles seria a pessoal ideal para tocar a mudança de rota da política econômica. “Levy pouco dialoga com o Congresso e não já mostra o empenho necessário para a aprovação do ajuste fiscal, pois vem sendo derrotado sistematicamente dentro do governo”, comentou o assessor.

Fracasso
Um petista próximo a Lula e a Dilma explicou que Meirelles reúne as qualidades essenciais para comandar a equipe econômica. Ele lembrou que o fato de o ex-presidente do BC ter trabalhado com o atual chefe da autoridade monetária, Alexandre Tombini, terá impacto imediato nas expectativas de inflação porque os dois buscarão a estabilidade fiscal. “Meirelles é respeitadíssimo tanto pelo mercado quanto pelo setor produtivo, é próximo ao vice-presidente, Michel Temer, e agrada o PMDB. Ainda é capaz de propor medidas para a retomada do crescimento. Já Levy mantém apenas apoio do sistema financeiro”, assinalou.

Outro interlocutor privilegiado da Esplanada afirmou que Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, deixou de ser uma alternativa para a sucessão de Levy porque não é unanimidade no mercado e mantém relações umbilicais com a corrente de pensamento desenvolvimentista, que levou o Brasil para o buraco. “Barbosa seria um candidato se não estivéssemos em uma crise tão profunda e precisássemos convencer o mercado e os investidores de que temos condições de resolver o nosso problema. Precisamos de ações práticas o quanto antes”, disse.

Um outro entusiasta da troca de Levy por Meirelles e próximo a Lula admitiu que a aposta do ex-presidente na liberação do crédito é polêmica, porque pode pressionar mais a inflação e elevar os calotes. Ele considera que, nos 11 meses em que comandou a Fazenda, o ministro sequer conseguiu aprovar o ajuste fiscal. “A certeza que temos é de que uma mudança precisa ocorrer”, alertou.

A escolha de Levy para a Fazenda não era a primeira alternativa de Dilma. Ela queria para o posto o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, mas ele recusou o convite e indicou para o lugar seu subordinado. O estilo ortodoxo de Levy contraria a formação desenvolvimentista da presidente, mas ela precisou engoli-lo em meio ao rombo nas contas públicas.


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