Arenda de gladiadores Servidores disputam poder na Esplanada Integrantes de carreiras do governo federal tentam mostrar unidade, mas se digladiam em torno de atribuições, cargos de comando e vantagens pecuniárias

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 20/07/2015 08:59 Atualizado em:

Os servidores federais comemoram o fato inédito de realizarem uma campanha salarial unificada em 2015. Nos bastidores, no entanto, não há união entre carreiras do funcionalismo. A tentativa de criar uma aliança desmorona quando o assunto é compartilhamento de atribuições. No dia a dia, o convívio entre diferentes categorias é belicoso. Não é raro que o confronto ultrapasse as fronteiras do órgão em que atuam e vá parar no Congresso, num pesado jogo para convencer parlamentares a aprovarem projetos de lei em benefício de grupos específicos —ou até mesmo na Justiça.

Em órgãos como a Polícia Federal, a Receita ou o Itamaraty, a discórdia é comum, das funções da base às do topo da pirâmide. Um grupo está constantemente de olho nas conquistas do outro. Ao menor sinal de benefício a mais, a disputa se instala, seja por isonomia de salários, compartilhamento de funções ou, simplesmente, por poder e ganhos políticos. Lideranças sindicais circulam pelos corredores do Legislativo e dos tribunais superiores, na constante tarefa de convencer parlamentares a apresentar projetos em seu favor ou de juízes que apoiem suas causas. Não importa quanto isso vai custar aos contribuintes — e o preço costuma ser alto.

As brigas internas entre servidores, conjugadas à prática usual do patrimonialismo (característica de um Estado sem distinções entre os limites do público e do privado), podem trazer um prejuízo anual ao Brasil de 1% a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Em números absolutos, o baque estimado nos cofres da União fica entre R$ 55 bilhões a R$ 110 bilhões por ano, com base no PIB registrado em 2014, de R$ 5,521 trilhões. Os cálculos são do economista José Matias-Pereira, especialista em administração pública da Universidade de Brasília (UnB).

Se esses valores fossem economizados, em dois ou três anos, o governo teria recursos para a nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), para o qual estão previstos R$ 198,4 bilhões até  2019.

“Não tenho o objetivo de jogar a sociedade contra os servidores. Porém, a exacerbação dos interesses classistas predomina, enquanto as necessidades do país são relegadas a segundo plano. Isso mostra como a administração pública está desorganizada”, destaca Matias-Pereira. Os processos corporativistas são enraizados na história da humanidade, explicou. “No Brasil, eles cresceram e se sedimentaram a partir da década de 1930. De lá para cá, passamos por várias reformas, mas os problemas da administração não foram resolvidos”, assinala.

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