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Um clique, vários disparos

Em 'Guerra civil', com Kirsten Dunst e Wagner Moura, fotojornalistas pegam a estrada para mostrar o colapso de violência que tomou conta dos Estados Unidos; e cada registro pode lhes custar a vida Diretor e roteirista Alex Garland jamais revela o que originou o conflito posições partidárias

Publicado em: 18/04/2024 06:00 | Atualizado em: 18/04/2024 09:00

 (Diamond Films)
Diamond Films
Diante da câmera, o presidente (Nick Offerman) ensaia um discurso de vitorioso que supõe ter chegado ao fim a série de conflitos que se espalham pelos Estados Unidos. Enquanto ele segue resguardado na Casa Branca tentando se perpetuar no poder, forças opositoras da aliança improvável entre Texas e Califórnia tentam lhe derrubar. Nesse cenário, os fotojornalistas Lee (Kirsten Dunst) e Joel (Wagner Moura) se juntam ao veterano Sammy (Stephen McKinley) e à iniciante Jessie (Cailee Spaeny) para seguir de carro até Washington e registrar o centro da guerra.
 
Quarto longa dirigido e escrito por Alex Garland (de Ex Machina, Aniquilação e Men) e primeira produção da A24 com ambição de blockbuster, Guerra civil, em cartaz, tem consciência de já nascer controverso – sobretudo sendo lançado em ano eleitoral – e faz a opção narrativamente curiosa (e comercialmente prudente) de nunca revelar o contexto político que originou o caos, tampouco posições partidárias ou a repercussão internacional. Mal se sabe quem está contra quem; o espectador é jogado na estrada ao lado do quarteto e o perigo pode vir de várias direções, a qualquer momento.
 
A escolha de não fornecer explicações tem boas vantagens dramáticas; a principal é a curiosidade provocada por cada etapa do trajeto (como fases de um gameplay), passando gradualmente de confrontos intimistas até a apoteose de tanques e destruições do clímax. Os cenários são quase de um apocalipse zumbi e a imprevisibilidade da situação confere uma tensão permanente refletida nas quatro ótimas interpretações (destaque para o olhar calejado de Kirsten Dunst), que criam um vínculo emocional necessário para que a ação deslanche em escala humana palpável. Nos seus últimos longas, Garland partiu do terror e da ficção científica para propósitos simbólicos e abstratos; aqui, sem a mediação da fantasia, utiliza sua habilidade como diretor de gênero para criar sequências de suspense bastante objetivas – uma em particular, com Jesse Plemons, está entre os momentos mais marcantes.
 
Essa alienação dos personagens e da plateia sobre os interesses políticos e o contexto prévio é conceitual, já que o roteiro parte da perspectiva de fotógrafos de guerra e, desse modo, busca ser coerente com o suposto olhar apartidário e ‘isento’ de um profissional cuja função é o registro do fato. Na superfície, faz sentido: importa a Guerra civil menos os motivos ou soluções e mais a imagem por ela mesma. E é essencial para o cinema especulativo elaborar situações que maximizam a realidade justamente para sacudir esses temas – a polarização, a desinformação, a intolerância, entre tantos outros. 
 
O conceito de um registro apolítico do fotojornalismo para o qual o filme deixa margem de interpretação, no entanto, é fatalmente falacioso, haja vista que qualquer captação de imagem ou escolha jornalística é política (ainda que por omissão). Garland é ciente de que a política inerente às escolhas artísticas e, na intenção de abrir o debate, o filme se exime inclusive de fazer um juízo aprofundado sobre a ética da fotografia no meio do colapso. Fica a critério do espectador se a opção é excesso de coragem em levantar a discussão ou covardia de não tomar a conversa para si. Talvez seja um pouco das duas coisas.
 
Em entrevista ao Viver, Wagner Moura destacou a importância das questões em aberto. “É um filme sobre os efeitos nefastos da polarização. Se a gente mostrasse muito do que havia acontecido antes, tomasse um partido ou outro, seria o oposto do que ele quer comunicar. Ele é um filme político, claro, mas sem uma agenda ideológica. A ideia de Alex é mostrar os efeitos nefastos da polarização, que é uma das maiores ameaças às democracias hoje”, explica o ator. “Cada um de nós [do elenco] elaborou na sua cabeça o background dos seus personagens e o roteiro é tão hábil que todos têm uma função clara ali dentro. O meu representar essa pessoa que mantém a bola alta em excitação com a guerra, mas passa por uma transformação importante também. É um cara dessensibilizado, mas que faz um trabalho justamente de sensibilização através do jornalismo”, completa. 

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