Comoção Ciclistas confortam familiares de ativista recifense atropelado em Brasília O pernambucano, de 23 anos, era um dos militantes da ONG Rodas da Paz que luta pelo respeito no trânsito

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 23/10/2017 11:21 Atualizado em: 23/10/2017 11:31

Foto: Reprodução/Instagram
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Cerca de 70 pessoas compareceram, na manhã desta segunda-feira (23/10), à capela 5 do Cemitério Campo da Esperança para a despedida do cicloativista Raul Aragão, 23 anos. Ele foi vítima de um atropelamento na via L2 Norte na tarde de sábado . O rapaz não resistiu aos múltiplos traumatismos e morreu às 4h de domingo.

O pai, Helder Luiz Gondim Rocha, descreve Raul como um "apaixonado pela cidade". "Eu o ensinei a pedalar. E ele era tão apaixonado pela bicicleta que, mesmo com carteira de motorista, não queria saber de carro", relembra, emocionado. Helder classificou o acidente como uma "barbaridade para todos" e disse, ainda, que perdoa o motorista que atropelou o estudante.
 
Além dos parentes, representantes do grupo Rodas da Paz estavam no cemitério para prestar homenagens. Alguns cicloativistas pedalaram até o local e fizeram questão de se despedir de Raul vestindo o traje típico dos ciclistas: camisa e capacete. Do lado de fora da capela, os ativistas formaram uma fila de bicicletas.
 
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
No caixão, o corpo de Raul também vestia um capacete. Além disso, ele segurava um nariz de palhaço em cada mão, o que, segundo amigos, era um dos adereços que o jovem usava para divertir as crianças — Raul era anjo, ou seja, ensinava os pequenos ciclistas a pedalar. Alguns amigos compareceram ao velório também usando nariz de palhaço como forma de homenagem.
 
A morte de Raul expõe uma ferida antiga no convívio entre ciclistas e motoristas. Beth Davison, 68 anos, também perdeu o filho, Pedro, por atropelamento, em 2006. Ela esteve no velório para prestar solidariedade à família. "Conheci o Raul ainda na barriga da mãe. Frequentava a nossa casa e era um jovem cheio de sonhos. Queria, inclusive, transformar Brasília em uma cidade que substituísse carros por bicicletas", conta Beth.  

Estão presentes, também, colegas do curso de ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB), que estudavam com Raul. Amigos da irmã, Flora Gondim, também participam do funeral. Uma monja budista conduziu as orações no início do velório. Após a cerimônia, por volta das 11h30, o caixão segue ao Cemitério Jardim Metropolitano, em Valparaíso, onde o corpo de Raul será cremado.
 
O grupo Rodas da Paz informou, ainda, que vai organizar um passeio ciclístico em homenagem a Raul às 19h desta sexta-feira (27/10). Segundo o coordenador geral do grupo, Bruno Leite, o trajeto contorna a Esplanada dos Ministérios e segue em direção ao local do acidente, entre a 406 e a 407 Norte, local também próximo ao prédio onde o estudante morava. 

Ativismo 

Raul era fiel defensor da bicicleta e da mobilidade urbana. Em 2015, em uma entrevista ao Correio, ele fez críticas aos motoristas que não respeitam quem anda sobre duas rodas. "Como não há ciclovias em todos os lugares, precisamos andar muitas vezes na rua. Mas é perigoso, pois temos de circular próximos à guia, onde costuma ter bueiros e bocas de lobo. Quando desviamos, corremos o risco de atropelamento", disse Raul, à época. O jovem também atuava como "anjo", ou seja, ensinava crianças a pedalar e ajudava nos reparos de bicicletas de outras pessoas.


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