Batalha Pais que perderam filho com leucemia ajudam crianças na luta contra câncer O nome de Daniel Ibiana será emprestado a uma das salas do espaço a ser construído na Abrace com a campanha de uma rede de fast food

Por: Roberta Pinheiro - Correio Braziliense

Publicado em: 14/08/2015 08:46 Atualizado em:

O garoto Daniel, com o pai, o médico Ricardo Ibiana: companheiros de aventura. (Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
O garoto Daniel, com o pai, o médico Ricardo Ibiana: companheiros de aventura. (Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

— Meu filho, por que você está triste?
— Meu coração foi embora, pai.

Foi assim que o pequeno Daniel Costa Ibiapina, 4 anos, explicou para o pai o motivo do desânimo dos três únicos dias em que a mãe não conseguiu acompanhá-lo no hospital, em São Paulo. A mãe, a médica Carina Costa Ibiapina, 38, veio a Brasília ficar com os outros dois filhos, Gustavo, 7, e Miguel, 2. Mas por quatro meses ela não desgrudou de Daniel. Alugou um apartamento na capital paulista para acompanhar a criança no tratamento contra a leucemia. “A gente era um só”, define a mulher. Apesar de ter passado por um transplante em São Paulo, o menino não resistiu. Agora, o coração que ficou sem um pedaço foi o de Carina. Para lidar com a dor da perda de um filho, a família decidiu ajudar outras crianças que passam pelo mesmo tratamento.

Depois de um encontro na Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), Carina e o marido, o também médico Ricardo Costa Ibiapina, 41, encontraram ali uma maneira de dar outro significado à tristeza pela perda de Daniel. Primeiro, fizeram uma campanha entre amigos para arrecadar um complemento alimentar infantil. “Quando começamos a mobilização, esperávamos arrecadar mil latas. No fim, tínhamos seis mil”, relembra a médica. Agora, eles colaboram com uma a campanha de uma rede de fast food que realiza um dia de mobilização em todo o país, no último sábado de agosto.

Todos os anos, a venda dos lanches é revertida para projetos pela cura do câncer infantil e juvenil no Brasil. Em Brasília, a Abrace, instituição beneficiada, usará o valor para construir um espaço pedagógico. A ideia é permitir que as crianças em tratamento continuem os estudos, mesmo longe da escola. Uma das salas vai levar o nome de Daniel. “Nós entendemos que a educação é uma forma de inclusão. Isso vai ajudar essas crianças e esses adolescentes a verem a vida por um outro lado, do convívio, do aprendizado, do conhecimento”, afirma a presidente da instituição, Ilda Peliz.

O novo local oferecerá assistência no horário contrário das consultas e dos exames. Contará com brinquedoteca, salas de música e de terapia ocupacional, entre outras atividades. A obra está orçada em R$ 577 mil, e a expectativa é de que a construção comece logo depois da campanha, no espaço da Abrace, no Guará 2. “As crianças passam muito tempo fora da escola no período em que deveriam ser estimuladas”, comenta Carina. Enquanto estava internado em São Paulo, Daniel recebia a visita de uma professora todos os dias.

Inspiração
Com 11 meses, a família de Daniel descobriu a doença. De imediato, os pais começaram o tratamento em Brasília. Quando o menino estava com 1 ano, entrou em remissão. Isso quer dizer que a leucemia não era mais detectável. Mesmo assim, o menino continuou com a quimioterapia. No entanto, a angústia voltou a afligir a casa quatro dias depois do aniversário de 4 anos de Daniel. “Uma noite, aproveitei que ele estava dormindo e fui examiná-lo. Notei a barriga dura de novo e o fígado e o baço aumentados. No dia seguinte, liguei para a médica. Sabia que tinha alguma coisa”, conta a mãe. O tumor havia voltado. Desta vez, no estágio em que a doença estava, era necessário o transplante. A família conseguiu um doador 90% compatível.

A emoção ao falar de Daniel é inevitável. O menino de sorriso fácil e de bochechas gordinhas era o filho do meio do casal. A casa ficava cheia também com as brincadeiras de Gustavo, 7, e Miguel, 2. “Se me perguntam, continuo respondendo que tenho três filhos”, diz Carina. No peito, ela carrega um pedaço de cada um: são três pingentes de meninos, um anjinho e uma pequena placa com o escrito: Obrigado mamãe, te amo, Daniel. “A gente não vê, mas ele (Daniel) está aqui”, costuma dizer a médica para os outros dois filhos.

Na cabeceira da cama do casal, a mãe guarda o cantinho dela e do menino. Ali, ninguém pode mexer. Tem fotos, a escova de dentes, o brinquedo para fazer mágica e um tocador de música do Rei Leão. “Não tenho mais medo da morte, aprendi que cada um tem seu tempo”, afirma. Quando foi para São Paulo, Carina precisou deixar os outros dois filhos aos cuidados do marido. “A vida vira de cabeça para baixo, mas nunca perdemos a esperança. Hoje, estamos reconstruindo as nossas vidas da melhor forma que a gente conseguir. Ajudar outras crianças que passam por isso é recompensador e reconfortante”.

No último domingo, Dia dos Pais e data em que completava um ano da morte de Daniel, Carina, o marido e os dois filhos foram para a fazenda da família, em Água Fria de Goiás, lugar preferido do menino. Andaram a cavalo, cuidaram dos quatro cachorros dele — Ninja, Barcelona, Neymar e Pituca — e plantaram um ipê-amarelo em homenagem ao pequeno. Pai e filho eram amigos e companheiros de aventura. Gostavam de nadar e andar de slackline, por exemplo. “Como médico, a gente acha que pode ter controle, mas não é assim. O processo é horrível. A gente também sabe que as chances de dar errado são grandes. Mas o meu amor por ele é infinito. Sei que dei todo o carinho e a atenção. E é isso que queremos dar para as outras crianças”, comenta Ricardo.

Participe
O último sábado de agosto é a data do McDia Feliz, que, anualmente beneficia projetos pela cura do câncer infantil e juvenil no Brasil. Ao todo, 72 iniciativas e 58 instituições serão beneficiadas com a arrecadação da campanha em todo o Brasil. A Abrace será agraciada com a venda de tíquetes antecipados, produtos promocionais com a marca McDia Feliz e sanduíches Big Mac nos restaurantes de Brasília e Valparaíso, em 29 de agosto.

Como adquirir os ingressos antecipados
Valor: R$ 13,50 — poderá ser trocado por um Big Mac na data do McDia Feliz

Telefones: Abrace (61) 3209-8800, para pessoa jurídica (falar com Juliana); ou (61) 3212-6002, para pessoa física (falar com Tânia)

Local: QE 25, Área Especial 1, Cave, Guará 2
Clínica Materno Infantil, Sobradinho (3387-5755)
Clínica Cetros Quadra 8/7 (3302-3945)


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