Cultivo Brasil é o primeiro país a liberar plantio de eucalipto transgênico Pesquisadores e ambientalistas apontam riscos para a natureza e para a saúde humana

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 10/04/2015 08:49 Atualizado em:

Plantação na Bahia: com transgênico, país perderá certificação internacional. (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Plantação na Bahia: com transgênico, país perderá certificação internacional. (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O Brasil se tornou, na manhã de ontem, o primeiro país do mundo a autorizar o plantio comercial de uma árvore transgênica, com a aprovação de um eucalipto geneticamente modificado. Até hoje, somente haviam sido liberadas plantas de ciclo anual. A precaução em relação às árvores é que elas permanecem por mais tempo na natureza — por isso recebem a designação de perenes —, o que representaria novos riscos para o meio ambiente e para a saúde humana.

O eucalipto aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) foi desenvolvido pela empresa Futuragene, uma subsidiária da Suzano Papel e Celulose. De acordo com a empresa, a árvore vem sendo avaliada em campo desde 2006 e apresenta 20% de aumento de produtividade de madeira em comparação com o eucalipto convencional. Segundo estudos desenvolvidos pela empresa, a variedade transgênica cresce mais rápido, chegando ao ponto de corte em cinco anos e meio — o convencional demora sete anos.

A Futuragene garante que o eucalipto transgênico é seguro para a saúde humana e para o meio ambiente, enquanto pesquisadores e ambientalistas alertam para possíveis danos, como o alto consumo de água e a contaminação do mel, com consequente perda de espaço do produto no mercado internacional.

Para o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Paulo Kageyama, integrante da CTNBio, a liberação da planta traz sérios riscos. Doutor em genética e melhoramento de plantas, Kageyama sustenta que o eucalipto transgênico trará contaminações. "A abelha europeia, que poliniza o eucalipto, leva o pólen de planta em planta, incluindo transgênicas e convencionais. Os produtores que cultivam eucalipto para outros fins, como energia, madeira, óleo essencial, terão suas plantas contaminadas", diz. De acordo com o professor, o mel também poderá ser prejudicado. "O Brasil produz cerca de 40 mil toneladas por ano, boa parte orgânico, que será contaminado".

Contraponto
Os argumentos de Kageyama não foram suficientes, porém, para convencer os colegas, que aprovaram a liberação comercial da planta, com 18 votos favoráveis e três contrários. O professor da Universidade de São Paulo (USP) Hilton Thadeu Zarate de Couto, também integrante da CTNBio, disse que não existe a possibilidade de contaminação, porque a grande maioria dos plantios de eucalipto é feita por propagação vegetativa, e não com o uso de sementes. "Os 10% propagados por sementes são feitos em ambientes controlados", disse. O professor também contesta a possibilidade de redução de mercado de exportação pela perda da certificação. "Muitos países aceitam madeira sem certificação, inclusive a China", disse.

O plantio comercial de eucalipto transgênico pela Suzano implicará na perda da certificação da Forest Stewardship Council (FSC), organização não governamental com sede na Alemanha, presente em mais de 80 países e um dos maiores sistemas de certificação florestal do mundo. De acordo com a secretária executiva do FSC no Brasil, Fabíola Zerbini, a Suzano deverá perder a certificação se passar a produzir comercialmente o eucalipto de laboratório, o que causará impacto no mercado, segundo ela. “A cadeia de papel tem a certificação como um requisito mínimo. Imagino que o impacto seja muito grande”, disse.


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