ONU alerta que mais de 30 mil civis fugiram do leste de Darfur, no Sudão
Após um cerco de 18 meses, as Forças de Apoio Rápido tomaram El Fasher no final de outubro, uma cidade que era o último grande bastião do Exército
Publicado: 03/11/2025 às 14:12
emblema da ONU no salão da Assembleia Geral (ONU/Cia Pak)
A Organização Internacional para as Migrações, agência das Nações Unidas, alertou que uma semana após as Forças de Apoio Rápido, grupo paramilitar que combate o Exército do Sudão, terem capturado a cidade de El-Fasher, quase 37 mil pessoas precisaram fugir de cinco localidades no Kordofan do Norte, um estado situado a algumas centenas de quilômetros a leste de Darfur.
Após um cerco de 18 meses, as Forças de Apoio Rápido tomaram El Fasher no final de outubro, uma cidade que era o último grande bastião do Exército. No fim de semana, o primeiro-ministro sudanês, Kamil Idris, apelou à ajuda da comunidade internacional devido à extrema violência registrada em El Fasher. Mas, mesmo assim, Idris declarou em uma entrevista que se opõe ao envio de tropas estrangeiras.
Desde o dia da tomada da cidade são registrados relatos e testemunhos de execuções, pilhagens, violações, perseguições étnicas, estupros coletivos e ataques a trabalhadores humanitários que se encontram na zona.
A Missão Internacional Independente de Apuração dos Fatos sobre o Sudão apelou sobre a proteção de civis no país, que está em conflito desde abril de 2023. Somente na última quarta-feira pelo menos 460 pessoas foram mortas num ataque ao Hospital Saudita, em El Fasher, atribuído às Forças de Apoio Rápido. A escalada da violência no país africano também foi discutida no Conselho de Segurança da ONU, na quinta-feira. Para o subsecretário-geral de Assistência Humanitária, Tom Fletcher, existe uma falha para evitar essas atrocidades. “El Fasher é palco de níveis catastróficos de sofrimento humano, e a crise no Sudão é uma falha de proteção e incapacidade de respeitar o direito internacional”, afirmou.
A situação no Sudão é descrita por organizações internacionais e líderes mundiais como catastrófica e a pior crise humanitária do mundo na atualidade. Depois de mais de dois anos de guerra civil entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido, o país está mergulhado no caos e enfrenta uma combinação avassaladora de violência generalizada, fome severa e colapso total de serviços básicos.
O conflito já deixou milhares de pessoas mortas e feridas e, segundo a Agência de Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), o número de refugiados sudaneses em fuga da guerra civil no país já ultrapassou quatro milhões. “Fugiram do Sudão como refugiados, requerentes de asilo ou repatriados. Este é um marco devastador na mais grave crise de deslocamento populacional do mundo”, disse Eujin Byun, porta-voz do Alto-Comissariado da ACNUR.
Desde abril de 2023, o terceiro maior país de África enfrenta uma guerra pelo poder entre o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe do exército e atual governante do país após um golpe de Estado em 2021, e o seu ex-braço direito, Mohamed Hamdane Daglo, comandante das Forças de Apoio Rápido.
A inação da comunidade internacional e a falta de financiamento para ajuda humanitária agravou a situação, que não apresenta ainda a possibilidade de uma solução pacífica.