Redações do mundo em protesto hoje contra assassinatos de jornalistas em Gaza
A ação é Organizada pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o movimento de campanhas Avaaz (movimento cívico global), e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ)
Publicado: 01/09/2025 às 15:19

Manifestantes seguram cartazes durante um protesto para denunciar os ataques de Israel a jornalistas, fotógrafos e instituições de mídia em Gaza e no Líbano (ANWAR AMRO / AFP)
Nesta segunda-feira (01), centenas de órgãos de comunicação de 70 países em todo o mundo bloquearam as primeiras páginas de seus veículos e interrompem as transmissões, exigindo o fim do assassinato de jornalistas na Faixa de Gaza e acesso ao enclave palestino.
Os jornais trazem suas capas em preto ou com mensagens marcantes, enquanto as emissoras de TV e rádio vão interromper a programação com uma declaração conjunta, num protesto que envolve a imprensa dos países participantes.
A ação é Organizada pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o movimento de campanhas Avaaz (movimento cívico global), e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), sendo apresentada como o primeiro protesto editorial em grande escala da história moderna coordenado em simultâneo por redações em todos os continentes. A campanha intitulada, “Ao ritmo em que jornalistas estão sendo mortos em Gaza pelas forças de defesa de Israel, em breve não haverá mais ninguém para manter o mundo informado”, pretende chamar a atenção para o elevado número de mais de 200 jornalistas mortos no enclave desde o inicio da guerra.
Os meios de comunicação social envolvidos na campanha apresentam três exigências: Juntos, denunciamos o assassinato de jornalistas pelo exército israelense na Faixa de Gaza e pedimos o fim da impunidade dos crimes cometidos contra os profissionais da comunicação social; Juntos, exigimos que seja permitida a evacuação urgente dos jornalistas palestinos que queiram sair do enclave; Juntos, pedimos às autoridades israelenses que permitam o acesso independente da imprensa internacional à Faixa de Gaza.
Já o diretor de campanhas da Avaaz, Andrew Legon, disse que Gaza esta se transformando num cemitério de jornalistas porque o governo de extrema-direita de Israel está tentando concluir o massacre no escuro, sem o escrutínio da imprensa. “Se as últimas testemunhas forem silenciadas, as mortes não cessarão, apenas deixarão de ser vistas. É por isso que estamos unidos hoje: Não podemos e não vamos permitir que isso aconteça", declarou.
O secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas, Anthony Bellanger, afirma que os jornalistas mortos arriscaram tudo para contar a verdade ao mundo e pagaram com a vida. “O direito do público à informação foi profundamente prejudicado por esta guerra. Exigimos justiça e uma convenção internacional da ONU sobre a segurança e a independência dos jornalistas”, apontou.
O diretor da RSF, Thibaut Bruttin, adverte que não é somente uma guerra contra Gaza, é uma guerra contra o próprio jornalismo. “Jornalistas estão sendo mortos, alvo de ataques e difamados. Sem eles, quem vai falar da fome, quem vai denunciar crimes de guerra, quem vai expor genocídios?", questiona.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas CPJ e outras organizações afirmam que as alegações de Israel de que jornalistas assassinados são rotulados como combatentes ou agentes do Hamas, faz parte de um padrão de desinformação e não tem credibilidade. “O exército israelense impede os jornalistas internacionais de entrar e cobrir a guerra e dizimou a própria comunidade midiática de Gaza”, indica o CPJ. Segundo o direito internacional, os jornalistas devem ser protegidos como civis, mas o Comitê para a Proteção dos Jornalistas destaca que o governo de Tel Aviv se empenha no esforço mais mortífero e deliberado para matar e silenciar jornalistas que o CPJ já documentou. “Os jornalistas palestinos estão sendo ameaçados, diretamente visados e assassinados pelas forças israelenses, e são arbitrariamente detidos e torturados em retaliação pelo seu trabalho. Ao silenciar a imprensa, aqueles que documentam e testemunham, Israel está a silenciar a guerra", assinala.
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lembrou que faltam oito dias para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e apelou por uma ação firme por parte da comunidade internacional.
É estimado que cerca de 250 jornalistas palestinos já foram mortos pelo exército israelense desde outubro de 2023, mas não se tem ainda um consenso exato entre as organizações. No entanto, ainda há muitos outros que ficaram feridos, passam fome como relatou a agência de noticias France-Press sobre os seus colaboradores freelancers na região e a grande maioria segue enfrentando ameaças constantes apenas por fazerem seu trabalho: noticiar os fatos.
Mas, uma coisa é certa, o número de jornalistas que já morreram em Gaza é maior do que na Primeira e Segunda Guerra Mundial, além de superar as guerras do Vietnã, Iugoslávia, Ucrânia e a da Síria. “O que o torna o conflito mais letal para repórteres nos tempos modernos”, enfatiza a RFS.

