Unicef alerta que cerca de 28 crianças são mortas por dia em Gaza
Israel é acusado pela comunidade internacional de usar a fome como instrumento de guerra.
Publicado: 05/08/2025 às 16:34

Um menino palestino aguarda uma refeição em uma cozinha beneficente na área de Mawasi, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025. O chefe do maior hospital de Gaza disse que 21 crianças morreram de desnutrição e fome no território palestino nos últimos três dias, em meio a um ataque devastador das forças israelenses. (Foto: AFP) ( AFP)
A Unicef, organização das Nações Unidas de ajuda humanitária às crianças, afirmou nesta terça-feira (5) que, em média, 28 crianças são mortas por dia na Faixa de Gaza. De acordo com a Unicef, mais de 18 mil crianças já foram mortas em Gaza desde o inicio da guerra.
"Morte por bombardeios. Morte por desnutrição e fome. Morte por falta de ajuda e de serviços vitais. As crianças de Gaza precisam de comida, água, medicamentos e proteção. Mais do que tudo, precisam de um cessar-fogo, agora", relatou a Unicef numa mensagem publicada nas redes sociais.
Hoje também 36 pessoas que aguardavam por ajuda humanitária morreram, segundo fontes médicas do enclave. Desde meados de maio foram mortas pelo menos 1.400 pessoas que esperavam ajuda, a maior parte das quais perto das instalações da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), apoiada pelos EUA, enquanto outros palestinos foram vitimados ao longo das rotas dos comboios de ajuda, informou as Nações Unidas.
Após um bloqueio total por mais de dois meses, Israel é acusado pela comunidade internacional de continuar a restringir deliberadamente a entrada de alimentos e bens essenciais no território palestino e usar a fome como instrumento de guerra.
Na segunda-feira (4), apenas 95 caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza, um número muito abaixo do mínimo de 600 caminhões por dia para atender as necessidades humanitárias básicas da população de aproximadamente 2,2 milhões.
No entanto, o COGAT, agência israelense que trata das políticas do governo para assuntos civis nos territórios palestinos, disse hoje que reabrirá parcialmente o comércio do setor privado com Gaza para reduzir a sua dependência da ajuda humanitária. Será, portanto permitida a entrada gradual e controlada de mercadorias em Gaza através de comerciantes locais.
As ONGs ainda apontam que o lançamento aéreo de alimentos, que foi realizado por países árabes e europeus, é ineficaz. “Lançar ajuda humanitária por via aérea é uma iniciativa ineficaz, que beira o cinismo. As estradas estão lá, os caminhões estão lá, os alimentos e os medicamentos estão lá. Tudo está preparado para levar ajuda humanitária a Gaza, a poucos quilômetros de distância. Tudo o que é necessário é que as autoridades israelenses decidam facilitar sua chegada, agilizar os procedimentos de liberação, permitir a entrada de mercadorias em larga escala e coordenar para permitir a coleta e a entrega seguras. Só então poderemos começar a resolver a fome que estamos presenciando”, denuncia Jean Guy Vataux, coordenador de emergência dos Médicos Sem Fronteiras em Gaza.
Vataux explica que os lançamentos aéreos são notoriamente ineficazes e perigosos, pois entregam uma quantidade muito menor de suprimentos do que as 20 toneladas que podem ser transportadas em um caminhão. “Hoje, cerca de dois milhões de pessoas estão presas e confinadas em um pequeno pedaço de terra, que representa apenas 12% de toda a Faixa de Gaza. Se algo cair nessa área, as pessoas inevitavelmente ficarão feridas. Por outro lado, se os lançamentos aéreos caírem em áreas onde Israel emitiu ordens de deslocamento, as pessoas serão forçadas a entrar em zonas militarizadas, mais uma vez arriscando suas vidas por comida”, acusa o MSF.
A operação militar das forças israelenses no território já provocou desde o começo do conflito mais de 61 mil mortos, milhares de desaparecidos nos escombros e outros 150.671 ficaram feridos em ataques, além da destruição de quase todas as infraestruturas, a deslocação forçada e contínua de milhares de pessoas acrescidas da fome, desnutrição e das doenças.

