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FAIXA DE GAZA

Mais 14 pessoas morrem de fome em Gaza e líderes mundiais se mobilizam por ação urgente

Netanyahu classificou a acusação de seu governo de implementar uma campanha de fome em Gaza como uma "mentira descarada"

Isabel Alvarez

Publicado: 28/07/2025 às 15:19

Distribuição de refeições na Faixa de Gaza/ OMAR AL-QATTAA/AFP

Distribuição de refeições na Faixa de Gaza ( OMAR AL-QATTAA/AFP)

Mais 14 pessoas morreram por subnutrição nas últimas 24 horas na Faixa de Gaza, sendo que uma das vítimas registradas foi um bebê no Hospital Al-Shifa, elevando o número de mortos por fome para 147 pessoas. Deste total de palestinos que morreram de fome, 88 eram crianças.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou como uma "mentira descarada" acusar o seu governo de implementar uma campanha de fome em Gaza, garantindo que "não há fome" no enclave. Netanyahu afirmou que autorizaria a entrada de uma ajuda mínima, isso após as imagens de crianças subnutridas terem suscitados criticas e acusações dos próprios aliados. Tel Aviv alega ainda que restringiu o nível de ajuda que pode entrar em Gaza porque o Hamas a desvia, apesar de nunca ter fornecido provas sobre isso.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o presidente dos EUA, Donald Trump, concordaram nesta segunda-feira (28) que é preciso uma ação urgente para pôr fim ao sofrimento em Gaza que atingiu novos patamares. “A ajuda humanitária tem de ser autorizada a entrar em grande escala e com rapidez. Comprometeram-se a trabalhar em conjunto para pôr fim à miséria e à fome, e a continuar a pressionar pela libertação imediata dos reféns que ainda permanecem detidos”, diz um comunicado emitido pelo gabinete de Starmer após a reunião entre ambos na Escócia.

Os dois líderes reiteraram ainda os seus apelos por um cessar-fogo imediato, de modo a abrir caminho para a paz na região. "Vamos criar centros alimentares e vamos fazê-lo em conjunto com algumas pessoas muito boas. Vamos fornecer fundos, acabamos de receber bilhões de dólares, temos muito dinheiro e vamos gastar um pouco de dinheiro em comida. Outras nações estão se juntando a nós. Então vamos criar centros de distribuição de alimentos nos quais as pessoas podem entrar sem restrições, não vamos ter cercas", disse Trump, acrescentando que a culpa em grande parte é do Hamas pelo atraso na distribuição de ajuda aos civis em Gaza, mas que Israel tem muita responsabilidade por limitar a ajuda à região.

Assim, diante da pressão e críticas internacionais à catastrófica situação humanitária em Gaza, o exército israelense já anunciou no fim de semana o início de "pausas humanitárias" de 10 horas e "rotas seguras permanentes" que serão adotadas para facilitar a entrega de ajuda humanitária na região. Além disso, foi ainda retomado o lançamento aéreo de ajuda humanitária à população palestina. As Forças de Defesa de Israel comunicaram que ontem foram lançados 28 pacotes de ajuda contendo alimentos.

No entanto, os palestinos relatam que os pacotes de ajuda lançados assim como os caminhões de ajuda que entraram não são suficientes e não chegaram à população de mais de dois milhões de pessoas. "Não vimos ajuda por terra, pelo ar ou em qualquer outro lugar. Aqui estamos nós, sentados junto à estrada como mendigos, à espera de um quilo de farinha, sem receber nada e sem que nada nos chegue às mãos. Costumávamos receber ajuda da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina. Já não nos dão essa ajuda. Se a tivessem entregado à UNRWA, teriam trazido até nós. Quando a UNRWA nos entregava, nunca nos faltava nada", contou Maryam Yahya, uma mulher deslocada de Rafah que vive em Zawaida.

"A ajuda é entregue por via aérea. A pessoa tem medo de sair da tenda e que uma caixa caia em cima dos seus filhos. Muitos morreram devido à queda nas tendas. E, no terreno, não há cessar-fogo. A situação continua a mesma: um cerco, sem comida nem água", disse Ahmed Al-Sumairi, um homem de Khan Younis atualmente deslocado na zona central de Gaza.

"Chamam de cessar-fogo temporário, mas nós não o vemos como tal. Vemos e escutamos bombardeios por todo o lado", eportoue Mohammed Al-Sumairi, deslocado de Khan Younis que vive atualmente numa tenda em Zawaida.

A Organização das Nações Unidas (ONU) também afirmou que a ajuda e as pausas temporárias continuam a ser insuficientes, uma vez que Israel anunciou a entrada de 120 caminhões de ajuda humanitária ontem, sendo que a média necessária, de acordo com as ONGS humanitárias que atuam no território, é de pelo menos 500 caminhões diários.

No domingo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado para os níveis alarmantes que a subnutrição está atingindo Gaza, indicando que o bloqueio deliberado de ajuda humanitária custou à vida de muitos habitantes. "A subnutrição está seguindo uma trajetória perigosa na Faixa de Gaza, marcada por um pico de mortes em julho", afirmou a OMS em comunicado.

Já na semana passada, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) também vem avisando que a subnutrição aguda em Gaza atingiu níveis históricos e que grande parte dos afetados são crianças ou grávidas e lactantes. “O atual fluxo de ajuda para Gaza não é suficiente para a população no território, que tem enfrentado meses de fome e desnutrição. É extremamente prematuro dizer que as coisas estão mudando. Tendo em conta a duração deste bloqueio, a fome da população e o número de pessoas desnutridas, vai demorar muito tempo até que as coisas se estabilizem e será necessário um fluxo de ajuda muito maior”, assegura Caroline Willemen, coordenadora da MSF em Gaza.

De acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM), agência da ONU, cerca de um terço da população em Gaza passa dias sem comer e há milhares de mulheres e crianças necessitando urgentemente de tratamento médico. Segundo recentes dados do PAM, a estimativa é que aproximadamente 470 mil pessoas enfrentarão uma fome catastrófica entre maio e setembro devido ao cerco imposto por Israel.

Os níveis de inanição no enclave palestino se agravaram em março com o fechamento completo dos pontos de acesso a Gaza, quando Israel impôs um bloqueio que cortou e proibiu totalmente a entrada de alimentos, medicamentos e combustível.

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