MSF alerta para situação devastadora em Gaza e mais de 100 ONGs humanitárias apelam à ação contra a fome
Em contrapartida, Israel, que controla todos os mantimentos que entram em Gaza, nega ser responsável pela escassez de alimentos
Publicado: 23/07/2025 às 15:50

Uma menina palestina cobre a cabeça com uma panela vazia enquanto espera em um ponto de distribuição de refeições quentes em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza (Eyad BABA/AFP)
O coordenador da ONG Médicos Sem Fronteiras no sul de Gaza, Guilherme Botelho, relatou que a situação no local é desesperadora, com a escassez de alimentos e cada vez mais crianças morrendo de fome. "A situação é bastante desesperante. Existem muitas pessoas a passar fome e muita destruição. Há pessoas que não comem há dias, que não têm água, saneamento, medicamento, combustível. A ajuda humanitária não está entrando. Fazemos o que podemos para conseguir alimentos para os pacientes. Nós os priorizamos, mas encontrar alimentos é quase impossível", afirmou.
Botelho contou ainda que nos precários hospitais da região chegam pessoas vítimas de má nutrição como de ataques, incluindo palestinos atacados enquanto procuravam ajuda humanitária. "Eu não sei como pode ser possível que esta situação seja mais devastadora do que já é. É urgente que paremos de falar tanto e verdadeiramente haja ações para acabar com esta guerra", pediu.
Também 111 grupos internacionais, na sua maioria de ajuda humanitária e de direitos humanos, apelaram hoje em um comunicado conjunto aos governos para que tomem medidas contra a fome que se alastra em Gaza, exigindo um cessar-fogo imediato e permanente e a suspensão de todas as restrições ao acesso de ajuda humanitária ao enclave.
“A fome se espalha por Gaza, enquanto permanecem intocados toneladas de alimentos, água potável, material médico e outros artigos nos arredores do enclave porque as organizações humanitárias estão impedidas de entregá-los. Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários se juntam agora às mesmas filas de alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas para alimentar as suas famílias. Com os mantimentos agora totalmente esgotados, as organizações humanitárias estão a testemunhar os seus próprios colegas e parceiros a definhar diante dos seus olhos. As restrições, os atrasos e a fragmentação do Governo de Israel sob o seu total cerco criaram o caos, a fome e a morte", afirmam as organizações.
As ONGs pediram aos governos da comunidade internacional que exijam o levantamento de todas as restrições burocráticas e administrativas, a abertura de todas as travessias terrestres, a garantia do acesso a todos em Gaza, a rejeição da distribuição controlada pelos militares e o restabelecimento de uma resposta humanitária baseada em princípios e liderada pela Organização das Nações Unidas.
O Patriarca latino de Jerusalém, o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, declarou que situação em Gaza é moralmente inaceitável.
Em contrapartida, Israel, que controla todos os mantimentos que entram em Gaza, nega ser responsável pela escassez de alimentos.
A ONU acusou o Exército israelense de matar em Gaza, desde final de maio, mais de mil pessoas que tentavam obter ajuda, a maioria em locais geridos pela Fundação Humanitária de Gaza, empresa privada apoiada pelos Estados Unidos e por Israel.

