Manifestantes marcham em Belém para 'pressionar' negociadores da COP30
Alguns manifestantes carregaram três grandes caixões para "enterrar" simbolicamente o petróleo, o gás e o carvão
Publicado: 15/11/2025 às 18:06
Marcha em Belém (PABLO PORCIUNCULA / AFP)
Dezenas de milhares de manifestantes, incluindo muitos indígenas, marcharam neste sábado (15) em Belém para "pressionar" os negociadores da COP30, reunidos a poucos quilômetros dali, a tomarem medidas urgentes contra o aquecimento global, como preservar a Amazônia e abandonar os combustíveis fósseis.
O governo brasileiro, anfitrião da conferência da ONU, continua em consultas com as delegações para tentar destravar temas de discórdia, como quem deve pagar a conta da crise climática.
A marcha partiu de um mercado local e deve chegar até um ponto próximo ao Parque da Cidade, sede da COP30 e protegido neste sábado por dezenas de militares e barreiras com grades.
Os organizadores estimaram em "50.000" o número de manifestantes.
"A gente tá aqui tentando fazer pressão para que não só essas promessas feitas pelos países sejam cumpridas, mas como também a gente não possa aceitar o retrocesso" na luta climática, disse à AFP a ativista brasileira Txai Suruí, o rosto visível do movimento indígena nas últimas COPs.
Enterro simbólico dos combustíveis fósseis
Os lemas ambientalistas se misturavam com ritmos locais como o Brega, tocando em a todo o volume nos alto-falantes.
Alguns manifestantes carregaram três grandes caixões para "enterrar" simbolicamente o petróleo, o gás e o carvão.
Também esteve presente na marcha a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, que mostrou reservas sobre um megaprojeto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a exploração de petróleo em águas profundas na Margem Equatorial, próximo à foz do rio Amazonas.
"Apesar dos nossos desafios e contradições, nós temos que fazer o mapa do caminho para a transição", disse a ministra, em apoio a uma ideia de Lula na cúpula de líderes da COP, e incentivada por outros países como França e Colômbia, embora não esteja na agenda oficial.
Com grande maioria brasileira e alguns estrangeiros, o movimento ambientalista convocou uma participação em massa, depois que nas últimas três COPs, realizadas no Egito, nos Emirados Árabes Unidos e no Azerbaijão, nenhuma ONG considerou seguro ir às ruas.
Muito presentes na marcha, onde alguns carregavam lanças e arcos e flechas, os povos indígenas da Amazônia foram protagonistas da primeira semana da COP após terem enfrentado, na terça-feira, as forças de segurança que protegiam a zona restrita de negociações.
"Precisamos de mais representantes indígenas dentro da COP para defender nossos direitos", disse à AFP Benedito Huni Kuin (50), do povo indígena homônimo no Acre. "Estamos vivendo um massacre com a nossa floresta, que está sendo destruída."
Os povos amazônicos pedem atenção a problemas históricos como a preservação de seus territórios.
"A invasão nesse pais é desde 1500 e essa COP é mais uma invasão, o retorno das caravelas com o capital estrangeiro e as multinacionais tomando nosso território", denunciou Naraguassu Pureza da Costa (65), referência indígena da ilha de Marajó, a oeste de Belém.
No ponto de chegada da marcha, dezenas de policiais armados bloqueavam a passagem para o centro de negociações, constatou a AFP.
A poucos metros dali, grupos indígenas dançavam e perfumavam o ar abafado com incenso.
'Sessões de terapia'
O Brasil iniciou a COP na segunda-feira com o pé direito ao alcançar um consenso sobre a agenda da reunião, mas o fez à custa de adiar discussões sobre temas mais espinhosos.
Após a primeira semana, não houve avanços sobre esses pontos — financiamento climático, metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, transparência e barreiras comerciais — e as consultas continuam em andamento neste sábado, quando a presidência da COP deve revelar o resultado desses diálogos.
Vários participantes consideram que cada parte permanece firme em suas posições e aguarda a chegada dos ministros na segunda-feira.
As posições "ainda estão bastante divididas", disse uma fonte da delegação francesa à AFP, com países europeus, latino-americanos e pequenas ilhas defendendo a redução das emissões e nações em desenvolvimento, emergentes e africanas incentivando o debate sobre o financiamento climático.
Segundo um diplomata ocidental, que falou em condição de anonimato, os brasileiros descreveram as discussões esta semana como "sessões de terapia".