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Política
TARIFAÇO

Trump sanciona Alexandre de Moraes e reacende tensão entre Brasil e EUA

Sanção dos EUA ao ministro do STF ocorre às vésperas do tarifaço contra o Brasil, levanta questionamentos sobre soberania e direitos humanos e intensifica a polarização no cenário político nacional  

Cecilia Belo

Publicado: 30/07/2025 às 20:06

Tensão aumenta entre Brasil e EUA/Fotos:  Marcelo Camargo/Agência Brasil/Gustavo Moreno/Brendan Smialowski/AFP

Tensão aumenta entre Brasil e EUA (Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Gustavo Moreno/Brendan Smialowski/AFP)

Às vésperas da entrada em vigor do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos contra o Brasil, o governo norte-americano impôs uma sanção ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, sob a justificativa de violações à liberdade de expressão e autoritarismo em decisões relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A medida, segundo o cientista político e professor do Centro Universitário da Vitória de Santo Antão (Univisa), Hely Ferreira, tem forte valor simbólico e insere mais combustível na já acirrada polarização política do país.

“A sanção é contraditória, sobretudo por partir de um país que ainda adota a pena de morte em vários estados. Não se pode tomar os EUA como referência em direitos humanos”, afirma Hely.

Segundo ele, é preciso lembrar que essas medidas diplomáticas não podem significar submissão do Brasil. “Nossa Constituição, no artigo 4º, deixa claro o papel da diplomacia brasileira, que é baseada na autonomia e na cooperação entre os povos — e não na subserviência a interesses estrangeiros”, reitera.

Liberdade em disputa
A decisão do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), vinculado ao Departamento do Tesouro dos EUA, acusa Moraes de promover censura, autorizar prisões arbitrárias e perseguir críticos do governo brasileiro, inclusive cidadãos norte-americanos, por meio de decisões que afetaram redes sociais como a Rumble e o X (antigo Twitter). A sanção se baseia na chamada Lei Magnitsky, usada para punir supostos violadores de direitos humanos ao redor do mundo.

O governo Trump, que reassumiu recentemente, ecoa o discurso de perseguição adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado no Brasil por tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. “O mais curioso é que agora, os que se dizem defensores da liberdade e da soberania estão aplaudindo uma intervenção estrangeira que atinge diretamente as instituições brasileiras”, pontua Hely Ferreira.


Efeitos políticos internos

O professor acredita que a sanção terá repercussões mais simbólicas do que práticas, mas destaca o impacto direto na retórica política. “Oposição e governo vão explorar essa medida em discursos cada vez mais polarizados. De um lado, a oposição dirá que é reflexo da falta de habilidade diplomática do governo Lula. De outro, o governo vai usar o episódio para reforçar a narrativa de que os ‘patriotas’ na verdade estão traindo a pátria ao se alinhar a sanções externas”, analisa.

Para Hely, a situação se insere em um “maniqueísmo tóxico”, onde não há espaço para debate racional ou nuances. “Não existe uma luta entre o bem e o mal, como muitos tentam pintar. O que está em jogo são disputas de narrativa que agravam a crise institucional e fragilizam a posição do Brasil em negociações internacionais".

Diplomacia e soberania

Apesar da tensão, o professor reafirma que o Brasil historicamente tem se posicionado como um ator diplomático de peso nas relações internacionais, com destaque para a capacidade de negociação independente. “O Brasil sempre buscou o equilíbrio. Não somos aliados incondicionais nem inimigos declarados. É uma postura que precisa ser mantida para garantir o respeito à nossa soberania”, defende Ferreira.

Ele encerra lembrando que a política externa brasileira deve seguir orientações constitucionais, inclusive no enfrentamento de tensões com potências como os EUA. “A diplomacia brasileira tem que continuar sendo firme, mas jamais subserviente. A soberania e a democracia não podem ser relativizadas por conveniências políticas”, conclui.

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