Beto Lago: 'Para um amigo, torcer pelo Sport é viver o estoicismo'
Mesmo com apenas duas vitórias em 29 jogos no Brasileirão, o Sport segue com o apoio do seu torcedor
Publicado: 28/10/2025 às 08:10
Torcida do Sport presente na Ilha do Retiro (Paulo Paiva/ Sport)
O estoico leonino
Raramente o futebol, com suas paixões e tragédias semanais, é associado à sobriedade filosófica. No domingo, num bom almoço de conversa, um amigo rubro-negro disse que “torcer pelo Sport é viver o estoicismo.” Fiquei com essa frase na cabeça. Fui visitar essa velha escola da Grécia Antiga, que prega a felicidade alcançada pela virtude, pela razão e pelo autocontrole, sobretudo pela aceitação do que não pode ser mudado. Com apenas duas vitórias em 29 jogos, o Sport carrega uma das campanhas mais dolorosas da história recente do Brasileiro, afundado na lanterna e com o rebaixamento praticamente selado. Em outros clubes, essa realidade geraria arquibancadas vazias, protestos furiosos e uma tristeza resignada. Mas na Ilha do Retiro acontece o improvável: o torcedor continua lá. Canta, empurra, ocupa o mesmo espaço sagrado com o mesmo fervor. Essa fidelidade inabalável, em meio ao caos e à derrota contínua, é talvez a forma mais pura do pensamento estoico: distinguir o que podemos do que não podemos controlar. O torcedor não controla o desempenho do time, o erro da arbitragem, o gol perdido ou a matemática fria da tabela. Mas controla sua atitude, sua presença e a maneira como reage à dor. O rubro-negro, de forma quase sublime, aceita essa dicotomia. Não se ilude com promessas de vitórias improváveis. O resultado é um “externo” incontrolável. Ele escolhe, em vez disso, o seu dever inegociável: estar presente. Vai à Ilha não pelo resultado, mas apesar dele, transformando a desgraça esportiva num exercício de virtude.
Para o torcedor do Sport, o sofrimento atual é parte do próprio DNA leonino. Eles não torcem por uma máquina de vitórias, mas por uma história, por uma casa (a Ilha do Retiro) e por um povo. A lanterna não é vergonha: é mais um capítulo a ser vivido com dignidade. O amor pelo clube é tão incondicional que abarca glória e desgraça na mesma intensidade. Dentro de uma lógica quase nietzschiana, com raízes estoicas, o rubro-negro abraça a vida como ela se apresenta. Seja ela doce ou amarga.
Prova de resiliência
A virtude estoica não se revela na calmaria, mas na tormenta. A presença em peso na Ilha do Retiro, jogo após jogo de derrotas, não é irracionalidade: é resiliência em estado puro. É a prova de que o valor maior não está no placar, mas na perseverança, na capacidade de resistir sem se quebrar. Cada canto, cada bandeira, cada aplauso no meio do desastre é um testemunho: o Sport pode cair, mas seu espírito permanece invicto.
Uma filosofia de vida
No fim, o torcedor do Sport, com sua presença estoica e inegociável, nos ensina uma lição rara: a verdadeira fidelidade não se mede em títulos, mas na capacidade de amar e agir com virtude quando tudo conspira contra. Eles são os leões que rugem mais alto na escuridão, provando que a paixão, quando lapidada pela dor e pela persistência, deixa de ser emoção passageira e se transforma em filosofia de vida.