Beto Lago: 'Ao invés de integrar e buscar o aprendizado mútuo, técnicos brasileiros preferem levantar muros'
No 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol (FBTF), Oswaldo de Oliveira e Emerson Leão discursaram contra técnicos estrangeiros
Publicado: 06/11/2025 às 09:14
Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol (FBTF), na CBF (Reprodução)
Levantando muros
As cenas do 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol foram um retrato preocupante do atraso intelectual e ético de parte da classe. O evento, que deveria simbolizar troca de conhecimento e valorização da profissão, ainda mais com a presença do italiano Carlo Ancelotti, técnico da Seleção Brasileira, acabou sequestrado por um discurso de xenofobia disfarçada e defesa de uma reserva de mercado ultrapassada. Diante de um Ancelotti visivelmente constrangido, Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira ofereceram um espetáculo de provincianismo e contradição. Leão afirmou que “não gosta de treinadores estrangeiros no meu país”, culpando os próprios colegas pela “invasão”, numa confissão que só reforça sua visão retrógrada. Oswaldo, em tom messiânico, espera que, após o italiano ser campeão da Copa do Mundo, “um brasileiro volte a comandar a Seleção”, que soou mais como ameaça do que patriotismo. A ironia é cruel: ambos construíram carreiras rentáveis fora do Brasil, usufruindo justamente da abertura que agora condenam. É inaceitável que profissionais que um dia foram acolhidos por outras culturas esportivas demonstrem tamanha intolerância no próprio País. Enquanto o futebol mundial prega integração e aprendizado mútuo, alguns veteranos, hoje fora do mercado relevante, ainda preferem levantar muros e se esconder atrás do passado.
O problema nunca foi o técnico estrangeiro, mas a estagnação de parte dos nossos treinadores, reféns do próprio imobilismo. Em vez de estudar, trocar ideias e se reinventar, optam pelo discurso vitimista da reserva de mercado. O futebol precisa de pontes, não de muros. É hora de romper com os velhos dogmas e cicatrizar as feridas criadas por quem se recusou a evoluir.
Racismo no esporte
Casos de racismo no esporte exigem respostas firmes, rápidas e pedagógicas. É o que defende o advogado Delmiro Campos, integrante do STJD do futebol, vôlei, surfe e triatlo. Ele destaca o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e o Enunciado 25 (CJF/CEJ), que unem punição e prevenção. “Racismo é cartão vermelho. Reagir e prevenir são indispensáveis, sempre”, resume. Delmiro lembra que a luta contra o preconceito não se vence apenas nos tribunais, mas na consciência de quem pratica e de quem se omite.
Fracassos e vergonha
Dos jogos que restavam na Ilha do Retiro, o duelo contra o Juventude seria um dos que se poderia vislumbrar uma vitória nesta reta final do Brasileiro. Nem isso. O Sport foi novamente horrível, desorganizado, apático e sem qualquer proposta de jogo. Uma equipe sem alma, sem identidade. Com César Lucena, ficou pior do que já era ruim. A derrota por 2x0 para o time gaúcho amplia a campanha vexatória do Leão em casa no ano: sete vitórias em 28 jogos. Faltam sete jogos, um martírio para a torcida, que dá sinais de abandono. Em uma temporada marcada por fracassos e vergonha para o futebol do clube.