Dólar sobe e fecha a R$ 5,35, após dados dos EUA mexerem com aposta para corte de juros
Esse foi o segundo pregão consecutivo de alta firme no mercado local
Publicado: 25/09/2025 às 18:17

Dólar (Valter Campanato/Agência Brasil)
O dólar emendou nesta quinta-feira, 25, o segundo pregão consecutivo de alta firme no mercado local e superou a linha de R$ 5,35, em movimento alinhado à onda de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior. Divisas emergentes sofreram com o avanço das taxas dos Treasuries curtos após dados mais fortes da economia dos EUA e falas cautelosas de parte de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central do país) esfriarem apostas em redução agressiva de juros nos próximos meses.
O real - que costuma ser mais castigado em episódios de aversão ao risco - apresentou perdas, em geral, em linha com a dos pares emergentes, em especial latino-americanos. Operadores afirmam que a aposta majoritária de cortes de juros no Brasil apenas no início de 2026 dá certa sustentação à moeda brasileira.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de setembro subiu menos que as estimativas, com uma melhora qualitativa sugerindo menores riscos inflacionários. De outro lado, o Relatório de Política Monetária (RPM) trouxe um tom duro reforçando a mensagem tanto do comunicado quanto da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de juros em nível restritivo por período prolongado.
Afora uma pequena queda pontual e limitada na abertura dos negócios, o dólar operou em terreno positivo no restante da sessão. Após máxima de R$ 5,3714, registrada na última hora de negócios, a moeda encerrou em alta de 0,69%, a R$ 5,3644 - maior valor de fechamento desde o último dia 11 (R$ 5,3922).
Circularam à tarde informações de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome da direita visto como mais viável para a corrida eleitoral de 2026, não estaria disposto a concorrer ao Planalto, o que poderia ter levado o dólar às máximas do dia. Operadores ouvidos pela Broadcast (sistema de noticiais em tempo real do Grupo Estado), contudo, não viram impacto relevante dos ruídos políticos sobre a taxa de câmbio, cujo comportamento estaria mais atrelado ao exterior.
A moeda acumulou alta de 1,61% nos dois últimos pregões, após ter furado o piso de R$ 5,30 e fechado a R$ 5,2791 na última terça-feira, 23, marcada pelo otimismo com os sinais amistosos do presidente dos EUA, Donald Trump, ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia Geral da ONU.
"O real deprecia hoje em linha com o movimento global do dólar. Após uma forte alta ontem, a taxa de câmbio iniciou a sessão devolvendo parte dessa correção após a divulgação de um IPCA-15 com um qualitativo mais benigno. Mas o movimento foi totalmente revertido após dados da economia americana", afirma o economista-sênior do Banco Inter, André Valério.
Pela manhã, a terceira leitura do PIB dos EUA no segundo trimestre mostrou alta anualizada de 3,8%, acima da segunda leitura e das estimativas de analistas, ambas de 3,3%. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) e seu núcleo subiram a ritmo anualizado acima do esperado no segundo trimestre.
"Esses dados contradizem a expectativa de que o Fed possa entregar os cortes na taxa de juros como se espera, sugerindo que a economia americana talvez esteja em melhores condições do que os dados de emprego sugerem", afirma Valério, do Inter.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY voltou a superar o nível dos 98 000 pontos, com máxima aos 98,605 pontos à tarde. O Dollar Index sobe cerca de 0,90% na semana e 0,65% em setembro. No ano, recua pouco mais de 9%. A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada às expectativas em torno da política monetária americana, subiu mais de 1%, com máxima a 3,67%.
"A alta do dólar aqui reflete um comportamento mais global da moeda americana, porque outras divisas emergentes também estão sofreram hoje. Os indicadores dos EUA vieram fortes, acima do esperado, levando parte dos analistas a revisarem as projeções de cortes mais agressivos de juros neste ano", afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
Para Valério, do Inter, o Fed deve voltar a reduzir os juros apenas em dezembro, uma vez que não há "sinais claros de desaceleração da economia americana". Ele ressalta que pode haver uma retomada da criação de empregos nos próximos meses em meio a uma inflação ainda pressionada pelas tarifas de Trump. "Nesse contexto, podemos ver o dólar recuperando parte das perdas das últimas semanas, pressionando as moedas mundo afora", afirma o economista.

