° / °
Coluna

Opinião

A Praça espera

Vladimir Souza Carvalho Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Vladimir Souza Carvalho

Publicado: 06/09/2025 às 10:38

Não sei se, nos dias atuais, os namoros ainda surgem no domingo à tarde na Praça da Igreja. As meninas desfilando no rinque, a rapaziada, nos bancos, nelas de olho. No meu tempo, era assim, a tarde de domingo se revestia do sagrado, e, todos os caminhos a Praça se direcionavam. Namoros nasceram de olhares trocados, o jovem se sentindo seguro em acompanhar a jovem, papo iniciado, até que surgiam as condições de se sentarem num banco, de preferência no meio da Praça, a fim de evitar os olhares curiosos dos abelhudos, que, aliás, eram muitos ou quase todos. Daí a planta crescia, ou, como coentro, não ia além de um palmo. Atire a primeira pedra quem, entre rapazes e moças, desta forma não namorou e trilhou outro caminho.


A melhor roupa se usava no domingo. Ainda hoje não desaprendi a mencionar na roupa a que a gente, naqueles tempos, considerava como roupa de dia de domingo. Não só a calça e a camisa. Também o sapato. O domingo era especial, o domingo na Praça, o passo lento dos que circulavam no rinque, um molho de moças e outro de rapazes, os adultos, papai não perdia, óculos Ray Ban [que conservo em meu gabinete], relógio Lanco no braço, e, aliás, parado, à falta de corda [os mais velhos sabem a que me refiro], ficando ele ao lado de outros em torno de um banco, sentados e/ou em pé, a frente aberta para a visão dos que passavam, a reunião ocorria, a conversa entrando por diversas grutas e cavernas, alheia a condição partidária. A praça, imponentemente, era o ponto central da urbe, grudando udenistas e pessedistas.


Quando os que concluíram o curso ginasial, uns dez, eu no meio, foram estudar no Aracaju, no domingo último de férias [na segunda, a viagem], participamos de excursão, de bicicleta, ao Bom Jardim, para subir a Serra. Em outra ocasião, conto os entreveros da subida. O importante aqui se liga a volta olímpica dada, no retorno, pela Praça, como os soldados que regressavam de mais uma vitória na guerra que Roma patrocinava, faltando só o escravo a dizer ao Cesar que a glória era passageira. No dia seguinte, o Colégio Estadual de Sergipe nos esperava, para iniciar a jornada do curso científico - eu, único, no clássico -, nós abafados pelo desconhecido que assustava. E a Praça? Na semana santa estaríamos de volta. A Praça esperaria, como ainda hoje o faz.

Mais de Opinião

Últimas

WhatsApp DP

Mais Lidas

WhatsApp DP