° / °
Coluna

Economia e Negócios Em Foco

Com Ecio Costa

COLUNA

Por que uma Selic tão alta?

A expansão fiscal é algo que dificulta muito a efetividade da política monetária contracionista para corrigir o problema inflacionário e fazer a ancoragem dentro da meta de 3% acontecer

Ecio Costa

Publicado: 20/10/2025 às 10:32

Ecio Costa/Reprodução

Ecio Costa (Reprodução)

A expansão fiscal é algo que dificulta muito a efetividade da política monetária contracionista para corrigir o problema inflacionário e fazer a ancoragem dentro da meta de 3% acontecer. O Banco Central (BC) vem repetindo, em todas as suas reuniões do Comitê de Política Monetária, que o governo está continuamente expandindo os gastos, aumentando o endividamento, que deve chegar a 85% do PIB em 2026, e causando uma pressão inflacionária.

Mas este não é o único problema. O crédito tem expandido muito nos últimos anos, dificultando o poder que a política mais restritiva poderia exercer no mercado, fazendo com que o BC precise aumentar o tamanho da dose do remédio e retardando o impacto na redução inflacionária. O BC agiu de forma correta e antecipada, ao elevar os juros antes que outros países, logo após a pandemia, para controlar a inflação, mas depois teve que elevar os juros novamente, a partir de setembro do ano passado, por conta da inflação causada pela expansão fiscal e, também, do crédito.

A eficácia da política monetária no Brasil é menor, porém. Quando o BC eleva a Selic em 1 p.p., a taxa média de empréstimos somente sobe em 0,7 p.p. e apenas em 4 meses depois porque 40% do total de empréstimos no país são feitos de forma direcionada, através do BNDES, BASA, BNB e outros bancos de fomento, que são menos responsivos ao aumento dos juros. Ou seja, para aumentar a taxa média de empréstimos no Brasil em 1%, a Selic precisa aumentar 1,4%.

Nos Governos Temer e Bolsonaro, houve mudanças estruturais no mercado de crédito do Brasil. Destaca-se que o BNDES passou a adotar as taxas de juros de longo prazo como sua taxa de juros, o que ajudou a melhorar a resposta à política monetária. Além disso, o mercado de crédito foi influenciado pelo surgimento das fintechs, que aumentaram a inclusão financeira e a disponibilidade de crédito à população que, por sua vez, teve um aumento de renda.

Soma-se a isso, mudanças estruturais no mercado de emissão de títulos privados, com ferramentas que melhoraram o tipo de emissão, inclusive com as debêntures incentivadas. Todos esses fatores ajudaram muito na forte expansão do mercado de crédito nos últimos anos, o que foi uma mudança bastante positiva, diminuindo a participação e dependência junto ao BNDES, apesar de uma Selic mais alta.

A dificuldade do BC em controlar a inflação e a necessidade de manutenção da Selic em patamar muito alto têm justificativas baseadas nessas forças que têm atuado contra: Política Fiscal expansionista e forte expansão do crédito que, ambos nos últimos anos, comprometem o poder de força que a Selic elevada causaria para tratar a inflação.

Mais de Economia e Negócios Em Foco

Últimas

WhatsApp DP

Mais Lidas

WhatsApp DP

X