Tarifaço impactará fortemente o NE
Ceará, Paraíba e Sergipe têm os EUA como seu principal destino para os produtos exportados, com impactos do tarifaço em praticamente 100% dos produtos exportados
Publicado: 11/08/2025 às 11:04

Ecio Costa (Reprodução)
A imposição de sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA deve gerar impactos importantes na economia do Nordeste, com queda nas exportações e no PIB dos seus estados.
Ceará, Paraíba e Sergipe têm os EUA como seu principal destino para os produtos exportados, com impactos do tarifaço em praticamente 100% dos produtos exportados. Os EUA são um destino relevante para as exportações de quase todos os estados da região.
Em 2024, Bahia, Ceará e Maranhão, por exemplo, exportaram mais de US$ 1 bilhão cada para o mercado norte-americano. Isso mostra o quanto esses estados estão expostos a mudanças nas regras comerciais com os EUA.
Considerando a nova lista de exceções anunciada ainda em julho e os produtos efetivamente exportados em 2024, estima-se que cerca de 70% da pauta exportadora nordestina para os EUA seria atingida pelas novas tarifas.
Para calcular os possíveis efeitos disso nas exportações, uma análise feita pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE) utilizou o valor exportado por cada estado em 2024 e aplicou uma estimativa de elasticidade-preço da demanda, que mostra quanto as vendas externas caem diante de um aumento nos preços causados pela tarifa. Segundo o IPEA, essa elasticidade varia de -0,5 a -0,8 no curto prazo.
Com base nesses números, a redução esperada nas exportações da região para os EUA em 2025 pode variar entre US$ 200 milhões e US$ 320 milhões, ou seja, uma queda entre 7,3% e 11,6%. Alagoas, Ceará e Paraíba aparecem como os mais prejudicados levando-se em conta o percentual de redução das suas exportações. Já em volume exportado, Bahia e Ceará concentram as maiores perdas.
O cenário para 2026 pode ser ainda pior. Caso as sobretaxas se mantenham e os exportadores não consigam abrir novos mercados para compensar as perdas com os EUA, a parcela da pauta exportadora afetada tende a aumentar ainda mais.
Nesse caso, Alagoas, Ceará e Paraíba continuariam entre os mais afetados em termos percentuais, e novamente Bahia e Ceará se destacam pelos maiores volumes impactados.
As perdas nas exportações afetam o PIB dos estados. Usando estimativas da consultoria LCA 4intelligence, estima-se que o tarifaço possa reduzir o PIB da Região Nordeste entre 0,08 e 0,13 p.p. já em 2025.
Para 2026, a queda pode ser ainda mais expressiva, entre 0,19 e 0,30 p.p. O Ceará é o estado mais atingido nesse cenário, com possibilidade de retração de até 0,30 p.p. em 2025 e de 0,67 p.p. em 2026.
Os números já impressionam por si só, e seus efeitos tendem a ser ainda maiores na prática. Isso porque muitos dos setores atingidos pelas sobretaxas, como fruticultura e calçados, são grandes empregadores e são fundamentais para a economia de diversas cidades do Nordeste.
A redução nas exportações pode levar à perda de empregos, aumento da inadimplência e queda no consumo, gerando um efeito em cadeia que afeta toda a atividade econômica. Ou seja, o impacto inicial estimado pode ser apenas o começo de uma desaceleração mais ampla em vários estados da região.

