° / °

Coluna

Diario Mulher

com Claudia Molinna

COLUNA

Reborns e o vazio do amor perdido

Os bonecos Reborn, criados artesanalmente para parecerem bebês reais, têm sido tratados por algumas pessoas como filhos

Claudia Molinna

Publicado: 20/05/2025 às 10:40

/Foto: Crysli Viana/DP Foto

(Foto: Crysli Viana/DP Foto)

Eles pesam como recém-nascidos, têm cheiro de talco e detalhes minuciosos: cílios, veias, dobrinhas. Os bonecos Reborn, criados artesanalmente para parecerem bebês reais, têm sido tratados por algumas pessoas como filhos. São embalados no colo, recebem nomes, roupas, mamadeiras e até certidões simbólicas. Para muitos, isso parece estranho. Mas, para quem vive a dor da perda ou da solidão, é um gesto de sobrevivência emocional.

Psicólogos apontam que, em muitos casos, cuidar de um Reborn é uma forma simbólica de elaborar o luto por filhos que não nasceram ou partiram cedo demais. Não se trata de delírio: é uma tentativa de consolo e reorganização afetiva. Em outras situações, o boneco funciona como companhia para quem vive só, sofre de ansiedade ou busca reencontrar a própria criança interior. Ao cuidar dele, a pessoa também cuida de si.

No entanto, especialistas alertam que essa prática precisa de limites. O apego ao Reborn não pode substituir completamente a vida social, os vínculos reais ou o tratamento psicológico necessário. Em alguns casos, o uso excessivo tem causado preocupações, a ponto de já existir um projeto de lei no Brasil propondo restrições ao uso dos bonecos, quando há risco à saúde mental.

O Reborn pode ser ferramenta de apoio e afeto, desde que não ultrapasse a fronteira do equilíbrio. A linha entre o consolo e a alienação é tênue. E o que começa como cura pode, se descontrolado, se transformar em fuga.

Nesses casos, o melhor cuidado continua sendo com a própria alma. Porque nenhum boneco, por mais perfeito que seja, pode ocupar o lugar de um amor que ainda precisa ser acolhido, compreendido e tratado com verdade.

PROJETO DE LEI PERMITE QUE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA MUDEM DE NOME PARA SE PROTEGER

  - Marcos Santos/USP
(crédito: Marcos Santos/USP )

No Brasil, milhares de mulheres vivem sob o fantasma da perseguição após romper relações abusivas. Aprovado em 2025, o Projeto de Lei 1.976/2025, de autoria da senadora Jussara Lima (PSD/PI), surge como resposta corajosa a esse drama silencioso. A proposta autoriza que mulheres vítimas de violência doméstica alterem seu nome completo, aliás, uma medida inédita no país, que reconhece o nome não apenas como identidade, mas como rota de acesso à segurança.

Diferente da tradicional mudança de nome por casamento ou retificação civil, essa nova possibilidade tem caráter protetivo. Ao permitir que a mulher abandone o nome pelo qual o agressor a localizava, o Estado oferece uma ferramenta concreta de preservação da vida. Trata-se de romper o elo simbólico e digital com o passado violento.

O PL 1.976 vai além do jurídico: é um gesto ético e político. É o reconhecimento de que recomeçar não é um privilégio, mas um direito. Que a paz exige, às vezes, anonimato. E que proteger a integridade de uma mulher pode significar permitir que ela desapareça, para enfim viver.

DIVERSIDADE GENÉTICA E SAÚDE FEMININA: UM MAPA INVISÍVEL QUE PODE SALVAR VIDAS

  - Freepik
(crédito: Freepik)

O Brasil acaba de ganhar uma das mais importantes revelações científicas dos últimos anos: segundo estudo publicado na revista Science, o país abriga mais de 8,7 milhões de variantes genéticas até então desconhecidas. A pesquisa, que analisou o genoma de mais de 2.700 brasileiros, não só destaca a pluralidade genética nacional como acende um alerta essencial: políticas de saúde não podem mais ignorar esse mosaico genético.

Para as mulheres, o impacto é direto e urgente. Doenças como o câncer de mama, endometriose e lúpus possuem componentes genéticos ainda pouco compreendidos, sobretudo em populações miscigenadas. Ignorar essa diversidade significa atrasar diagnósticos, errar em protocolos e excluir milhões de brasileiras de tratamentos personalizados e eficazes.

A descoberta rompe com modelos de pesquisa baseados em populações homogêneas, majoritariamente europeias. Ao reconhecer a singularidade do genoma brasileiro, especialmente o feminino, abre-se caminho para uma medicina mais precisa, ética e inclusiva.

Investir em mapeamentos genéticos que considerem a realidade brasileira é, mais do que inovação, uma reparação histórica. Mulheres de diferentes origens, cores e regiões merecem ser vistas também pelo que carregam no DNA: a complexidade de um país que pulsa plural.

Mais de Diario Mulher