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Conscientização

62% dos brasileiros dizem não saber como ajudar mulher vítima de violência, aponta pesquisa

Levantamento mostra ainda que quatro em cada dez brasileiras não reconhecem espontaneamente situações de agressão

Estadão Conteúdo

Publicado: 06/11/2025 às 10:30

A cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero em 2024 /Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A cada 17 horas, uma mulher morreu em razão do gênero em 2024 (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Apesar dos avanços nas políticas públicas e nas campanhas de conscientização, 62% dos brasileiros afirmam não ter informação suficiente para ajudar uma mulher em situação de violência, segundo o Índice de Conscientização sobre Violência contra Mulheres, lançado neste mês pelo Instituto Natura e pela Avon. O levantamento mostra ainda que quatro em cada dez brasileiras não reconhecem espontaneamente situações de agressão que já viveram como violência contra a mulher.

A pesquisa, realizada entre junho e agosto deste ano com 4.224 entrevistados acima de 18 anos em todas as regiões do País, indica que apenas 38% da população declara ter algum conhecimento sobre leis, tipos de violência doméstica - física, sexual, patrimonial, moral e psicológica - e canais de denúncia. O estudo também revela que 40% dos brasileiros não se lembram de ter visto campanhas sobre o tema nos últimos 12 meses.

De acordo com o levantamento, somente 29% dos participantes demonstraram alto ou muito alto nível de conscientização sobre a violência contra mulheres, enquanto 28% apresentaram níveis baixos ou muito baixos. O índice considera conhecimento sobre o tema, atitudes diante de casos de agressão e valores relacionados à percepção social do problema.

"A conscientização é parte da solução do problema social que é a violência contra mulheres e meninas", afirma a superintendente do Instituto Natura, Maria Slemenson. "O índice não é uma pesquisa pontual, mas uma ferramenta perene, um instrumento de acompanhamento da conscientização sobre a violência contra as mulheres, que nos ajuda a compreender se estamos evoluindo enquanto sociedade e a nortear nossas ações para promover transformação social".

O levantamento também expõe um descompasso entre discurso e prática. Entre as mulheres entrevistadas, 98% afirmaram que tomariam alguma atitude se sofressem violência, especialmente acionar a polícia. No entanto, entre aquelas que de fato passaram por situações de agressão, apenas 73% delas buscaram ajuda, e a maioria o fez de forma privada, sem formalizar denúncia ou acionar as autoridades.

Segundo Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres no Instituto Natura, o dado mostra que a violência ainda é tratada como um problema doméstico. "Embora tenhamos a impressão de que este seja um assunto em evidência na sociedade, a maior parte de nossa população não conhece informações fundamentais a respeito das leis e políticas públicas de proteção e apoio. Esse cenário contribui para que a violência contra a mulher, em especial a doméstica, seja mantida na esfera privada, e não tratada como um problema social mais amplo", afirma.

O estudo também mostra que 96% dos entrevistados reconhecem responsabilidade coletiva diante da violência contra a mulher, mas 60% acreditam que conflitos de casal devem ser resolvidos apenas entre os parceiros, e 15% dizem que não ajudariam por considerar o tema "assunto alheio".

O índice foi aplicado em seis países da América Latina: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México, e revelou padrões semelhantes: em todos, mais de um terço da população afirma não ter informações suficientes para ajudar uma mulher em situação de violência.

Como denunciar

Denúncias podem ser realizadas em todo o País, 24 horas por dia e sete dias por semana, de forma anônima por meio da Central de Atendimento à Mulher. Os meios de acionar o serviço são:

Telefone: 180

E-mail: [email protected]

WhatsApp: (61) 9610-0180

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