Adelmar Tavares: o príncipe dos trovadores

Bartyra Soares
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 01/04/2019 03:00 Atualizado em: 01/04/2019 08:49

Sempre que indagada se era ucraniana, sucinta, Clarice Lispector respondia: “Sou brasileira e pronto”. Afinal, havia chegado ao Nordeste do Brasil aos dois meses de idade, com os pais que fugiam da guerra, não tendo tido sequer olhos para contemplar os brancos invernos da distante Ucrânia. Em se tratando do escritor e poeta Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti, certamente, se lhe fosse dado perguntar se era recifense, diria: “Sou de Goiana”. E estaria encerrado o assunto.

Foi em 16 de fevereiro de 1888 que nasceu, no Recife, “voltando” a “ Goiana com menos de um mês, de onde partiu na casa útero da mãe, que para o Recife viajou, com o intuito de oferecer melhores condições de vir à luz, numa cidade de maiores recursos para o nascimento do seu menino “goianense”.

Em Goiana, cidade de Pernambuco, já vislumbrando de longe o passado de séculos, localizada no extremo norte do estado, cingida pelos verdes do mar e dos canaviais - sal e açúcar forjando o caráter telúrico de sua gente, foi que Adelmar Tavares, lá pisou no solo de seu “berço natal”. Lá teve início suas primeiras vivências de poeta, alargaram-se seus horizontes até levá-lo à presidência da Academia Brasileira de Letras. Além de vir a ocupar inúmeros outros cargos no decorrer de sua vida intelectual e profissional.

Consciente da importância desses fatos, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico de Pernambuco, durante a reunião realizada no dia 19 de março, o Conselheiro e jornalista Marcus Prado, ante a presença dos membros do sobrado de Oliveira Lima, no Recife, convidados e goianenses ilustres, fez a leitura do seu pedido de abertura do processo de Tombamento, como Patrimônio Histórico de Pernambuco, da casa onde residiu o escritor e poeta Adelmar Tavares, localizada em Goiana. Pedido que recebeu o apoio do professor, ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin. Justa solicitação. O casarão onde residiu Adelmar Tavares, atualmente o Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, é a representatividade material da vida de uma das mais ilustres personalidades de Pernambuco. A vida do Príncipe dos Trovadores Brasileiros, como passou a ser conhecido.

Conforme pesquisa de Marcus Prado “foi em Goiana onde Adelmar Tavares plantou as suas raízes, na casa dos seus primeiros devaneios infantis e seus impulsos literários na juventude, a que ficaria para sempre na sua memória, fonte de sua inspiração”. Tanto que aquela casa permaneceria definitivamente na sua lembrança, costumando declarar nos seus versos, que migrara de Goiana, mas a cidade nunca saíra dele. Sendo assim, aquela casa foi testemunha de trovas advindas de um coração sensível, tocado pela luminosidade de um tempo que acabaria por levá-lo a expandir suas trovas, versatilidade e privilegiada inteligência para o Sudeste do país.

O escritor, poeta e desembargador Josué Sena, um goianense apaixonado pela sua terra-mãe, muito nos diz, nos seus poemas, inesquecíveis poemas, acerca da casa de Adelmar Tavares. Basta, porém, que se relembre: “No tempo de Adelmar a casa era parte integrante de um sítio. Na distância, recuado, o sítio tinha uma mata. Com o passar do tempo, sem qualquer conservação, o imóvel perdeu condições de habitabilidade (...) o que acelerou sua degradação, até ficar ameaçado de ruir”.

O próximo procedimento será a homologação pelo governo do estado como Patrimônio cultural pernambucano, que dará a essa Casa a honraria almejada por aqueles que veneram o trovador e sua poesia de inseparável orgulho goianense. Um orgulho coletivo e atemporal.

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