Literatura e regiões brasileiras

Luzilá Gonçalves Ferreira *

Publicado em: 11/12/2018 03:00 Atualizado em: 11/12/2018 08:52

Quase como um presente natalino adiantado: recebo um Atlas de Representações Literárias de Regiões Brasileiras, publicado pelo IBGE. Resultado de um projeto governamental, iniciado em 2009, os dois volumes que tenho em mãos, muito ilustrados com belas fotos, mapas. e, sobretudo, com explanações de professores, sociólogos, historiadores, antropólogos, e geógrafos renomados, entre eles nosso Michel Zaidan e Manuel Correia de Andrade, a quem, aliás, o trabalho é dedicado. Os nomes desses cientistas das dinâmicas socioespaciais brasileiras foram resultado de pesquisas nas produções acadêmicas do sistema universitário brasileiro sobretudo da pós-graduação “que permitiram vir à tona novas análises e novos aportes aos conhecimentos já estabelecidos”, conforme se explica. Um precioso documento. Que desde o começo nos chama a atenção para a diversidade dos “sertões” no Brasil, um termo ao qual sempre se atribui a paisagem seca, hostil. Aqui temos os sertões do oeste, sertão do ouro, sertão dos currais, sertão de Cima, o sertão dos garcias, sertão de passagem, sertão da Farinha Podre, do gentio caiapó, e mais, as regiões do vale do Paraíba, do Pantanal, do Vale do Rio Doce, do Cariri, do Pajeú, estudados em sua geografia, paisagens, cultura. Quanto ao Nordeste, escreve-se: “o Sertão nordestino está longe de ser definido aqui, pelas imagens reducionistas que geralmente lhe são atribuídas – aquelas de espaço arrasado, habitado por estereótipos humanos dotadas de uma paisagem específica, de solos secos, sol inclemente, animais mortos etc. E mostrar que o Sertão nordestino é um mosaico socioeconomico e cultural, motivo pelo qual intitulamos o presente capitulo de Sertões Nordestinos, no plural.” As diversas regiões brasileiras foram ilustradas com textos de Dinah Silveira de Queiroz, Graça Aranha, Coelho Neto, Guimarães Rosa, José de Alencar (que, lembremos, sonhou um dia em fazer uma espécie de grande afresco da terra e da gente brasileira em sua cultura e paisagens – do índio ao personagem urbano, em romances como Iracema, O Tronco do Ipê, Senhora, para só citar alguns). No volume II do projeto, o Nordeste foi ilustrado com textos de romances de Claudio Aguiar e de Ariano Suassuna. Após lembrar que os sertões nordestinos carregam conotações de “zonas incivilizadas. “em grande medida pela fixação de sentidos operada pelos romances regionalistas e outras produções literárias, cinematográficas e cientificas”, a despeito “da consagração de certos autores como Euclides da Cunha, cujo livro Os sertões tornou-se monumento literário sobre o interior do Brasil”. Mas é coisa demais para caber num simples artigo. Imagino que estes volumes sobre nossas regiões e a literatura que produziram, obra do IBGE e publicados a partir de 2009, podem ser solicitados ao próprio IBGE, através do Ministério do Planejamenteo, Orçamento e Gestão. De qualquer modo, um grande projeto, louvável em todos os sentidos, enquanto realização da busca do conhecimento do que fomos e somos, na riqueza de nossa diversidade geográfica, humana e cultural. Que só podemos aplaudir. E agradecer.

Mas, antes de concluir este texto, um comercial, que aliás não é um. Nesta sexta feira, às 19 horas, na Academia de Letras de Garanhuns, esta colunista faz palestra sobre Romance histórico, viver um passado não vivido. E autografa seu novo romance, Um mumúrio de rosa, que é uma história de amor no século 18 pernambucano. * Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

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