Ao mestre com gratidão

Gilliatt Falbo
Médico e discípulo do Professor Fernando Figueira

Publicado em: 04/02/2019 03:00 Atualizado em: 04/02/2019 08:41

Costumo afirmar que a vida é curta, vazia e sem sentido. Muitas vezes isso choca meus interlocutores. Daí esclareço. Ela pode ser curta ou curtíssima na razão direta com que nossos hábitos e atitudes maltratam nosso corpo e diminuem o número dos possíveis dias de um convívio de qualidade com aqueles cujas presenças nos dão prazer. É vazia, pois somos nós mesmos os responsáveis por preencher o tempo que se repete de alvorecer a alvorecer, desde o início até o fim. Sem sentido se não formos capazes de preencher este tempo com alguma atividade que nos dê a necessária energia, a verdadeira razão de que vale a pena existir.

Comecei a frequentar, trabalhar, aprender, ensinar, dar e receber no IMIP no dia 2 de fevereiro de 1982. Conheci e convivi com o Professor Fernando Figueira por algumas décadas. Hoje se vivo fosse completaria 100 anos. Homem de nos contaminar com grandes sonhos, de nos fazer compreender que aprender e ensinar são a mesma coisa, que o respeito e a compaixão pelo paciente devem orientar nossas ações, a ter interesses altruístas e ambições generosas. Tinha um olhar perspicaz e aguçado que lhe permitiu sempre se colocar ao lado dos oprimidos. A criança principalmente, pois vulnerável sempre estará aos atos perversos dos adultos. Era justo e severo. Oferecia as oportunidades e cobrava os resultados. Dava exemplos antes de explicar. Era um ético obstinado. Imaginava sempre um IMIP muito maior do que realmente era, falava sempre do futuro, do sonho. Preocupava-se em cuidar das mães, de toda família, falava de uma Escola Médica. Da necessidade de se qualificar as práticas de saúde com mais carinho e humanidade. Muito do que sonhou conseguiu realizar. Outros sonhos, deixou para aqueles que acreditaram nas suas “visões”. Hoje sinto falta da presença, das conversas, dos exemplos. Faço o que está ao meu alcance para replicar seus ensinamentos e preservar a sua obra social: o IMIP.

Aos 63 anos de idade, quando tenho mais passado que futuro, lembro sempre de uma das tantas definições do Professor Figueira: “Gratidão é dívida que nunca prescreve”. A minha eterna gratidão ao meu mestre, por ter construído um lugar onde tornei minha vida plena, dei sentido a minha existência e em todos estes anos nunca, em nenhum momento, abdiquei de nenhum dos meus princípios políticos, profissionais e éticos.

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