Suíte pernambucana
Luiz Otavio Cavalcanti
Ex-secretário de Planejamento e Urbanismo da Prefeitura do Recife, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco e ex-secretário de Planejamento de Pernambuco.
Publicado em: 29/12/2018 03:00 Atualizado em: 29/12/2018 06:05
O que é Pernambuco ? Que ideias melhor representam essa aventura ? Que valores históricos simbolizam seu destino ?
Pernambuco é lúdico. E trágico. Pernambuco traz, no pé, a arquitetura do frevo. Mostra, no cinzel, as cores do mundo modernamente tropical de Cícero Dias. Revela, em versos de João Cabral, a singeleza pétrea do canavial que é mar. Pernambuco é ouvir, ver e rimar. Pernambuco rima com pensar. E fazer.
Pernambuco trágico. Começa pelas amputações. Perdemos os territórios de Alagoas e do Oeste baiano. Como castigo pelas revoluções de 1817 e de 1824. Foi o preço que pagamos pelo espírito insubmisso.
1817, a revolução dos maçons. 1824, a revolução dos padres. Em ambos os casos, revoluções feitas na defesa do constitucionalismo. E da federação. Os pernambucanos queríamos constituição. E um pingo de democracia federativa.
Pedro I teria dito: “Pernambuco não tem jeito. De lá só vem revolta”.
A propósito, Amaro Quintas refere a “ardência natural dos pernambucanos”, de que fala o padre Dias Martins (Mártires pernambucanos, pg. 259). No clássico O Sentido Social da Revolução Praieira.
Ou como escreveu Nilo Pereira: “O grande pioneirismo de Pernambuco na história nacional foi o inconformismo”.
Mas o tempo passa. Os costumes também. A vida, a civilização impõe novas concepções. E outros comportamentos. Pernambuco precisa, agora, é de mais igualdade social. E de sofisticação. Soluções mais sutis. Nesta era de criatividade. Economia criativa.
Decadência do açúcar. O segundo traço do Pernambuco trágico é a decadência do açúcar. A monocultura da cana produziu o latifúndio. Divisão de classes. Gerando, ao mesmo tempo, riqueza e pobreza. Terminou dando a Pernambuco um perfil aristocrático, mórbido, sádico, como acentuou Gilberto Freyre.
Fomos o maior produtor de açúcar do mundo, no século XVI. Em Amsterdam, mais de trinta refinarias aguardavam o produto pernambucano.
Com o passar dos anos, o açúcar foi ficando amargo. Como afirmou Freyre, a usina, que se instalou tão imperialmente na paisagem do Nordeste, perdeu a concorrência com outras regiões mais industrializadas. Degradou-se o estilo dos móveis, das casas, tornadas todas cinzentas.
A civilização do açúcar no Nordeste é ecológica. E deixou uma patologia social. Que resiste. Agarrada a oligarquias. Renovadas em faixas etárias. Mas, não, em mentalidades gregárias. Solidárias.
O açúcar, em Pernambuco, foi liturgia esverdeada na cana. Que também produziu inteligências desertoras. Embora fincadas, pela lembrança telúrica, no massapê da Mata. Fidelíssimas ao cheiro da terra. E aos valores democráticos. Exemplo mais sensível: Joaquim Nabuco.
Tragédias políticas. Pernambuco teve duas chances de alcançar a presidência da República. Agamenon e Eduardo Campos. Um, sertanejo legítimo. O outro, sertanejo por descendência. O sertão não virou mar.
Em 1952, Agamenon elegeu-se governador. Era, então, uma das grandes lideranças do Partido Social Democrata – PSD. Partido de Amaral Peixoto, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães. O Partido dividia-se em duas correntes: a dos antigos, da qual fazia parte Agamenon. E a dos novos, na qual estava Juscelino.
O encaminhamento natural dos fatos levava Agamenon à candidatura presidencial. Mas veio o infarto. E, em 1955, Juscelino foi eleito.
A segunda chance desapareceu na violência que cortou o voo do pássaro. Eduardo Campos, em dois meses de campanha, mostrou talento desmesurado. Evidenciando sinais de cenário verde amarelo. E legou marca ainda lembrada: “Não vamos desistir do Brasil”.
Estética pernambucana. Pernambuco tem dois filtros. Um, armorial, vem do sertão para o litoral. Ariano Suassuna. Outro, conceitual, sai do litoral para o universal. Aloísio Magalhães.
Pernambuco precisa ser filtrado. Retirando lixos. Escoimado. Apurando costumes. Esmerilhado. Definindo cores. Passado a limpo. No cartório da tolerância. Na escritura Suassuna. E no desenho Aloisiano.
Pernambuco é lúdico. E trágico. Pernambuco traz, no pé, a arquitetura do frevo. Mostra, no cinzel, as cores do mundo modernamente tropical de Cícero Dias. Revela, em versos de João Cabral, a singeleza pétrea do canavial que é mar. Pernambuco é ouvir, ver e rimar. Pernambuco rima com pensar. E fazer.
Pernambuco trágico. Começa pelas amputações. Perdemos os territórios de Alagoas e do Oeste baiano. Como castigo pelas revoluções de 1817 e de 1824. Foi o preço que pagamos pelo espírito insubmisso.
1817, a revolução dos maçons. 1824, a revolução dos padres. Em ambos os casos, revoluções feitas na defesa do constitucionalismo. E da federação. Os pernambucanos queríamos constituição. E um pingo de democracia federativa.
Pedro I teria dito: “Pernambuco não tem jeito. De lá só vem revolta”.
A propósito, Amaro Quintas refere a “ardência natural dos pernambucanos”, de que fala o padre Dias Martins (Mártires pernambucanos, pg. 259). No clássico O Sentido Social da Revolução Praieira.
Ou como escreveu Nilo Pereira: “O grande pioneirismo de Pernambuco na história nacional foi o inconformismo”.
Mas o tempo passa. Os costumes também. A vida, a civilização impõe novas concepções. E outros comportamentos. Pernambuco precisa, agora, é de mais igualdade social. E de sofisticação. Soluções mais sutis. Nesta era de criatividade. Economia criativa.
Decadência do açúcar. O segundo traço do Pernambuco trágico é a decadência do açúcar. A monocultura da cana produziu o latifúndio. Divisão de classes. Gerando, ao mesmo tempo, riqueza e pobreza. Terminou dando a Pernambuco um perfil aristocrático, mórbido, sádico, como acentuou Gilberto Freyre.
Fomos o maior produtor de açúcar do mundo, no século XVI. Em Amsterdam, mais de trinta refinarias aguardavam o produto pernambucano.
Com o passar dos anos, o açúcar foi ficando amargo. Como afirmou Freyre, a usina, que se instalou tão imperialmente na paisagem do Nordeste, perdeu a concorrência com outras regiões mais industrializadas. Degradou-se o estilo dos móveis, das casas, tornadas todas cinzentas.
A civilização do açúcar no Nordeste é ecológica. E deixou uma patologia social. Que resiste. Agarrada a oligarquias. Renovadas em faixas etárias. Mas, não, em mentalidades gregárias. Solidárias.
O açúcar, em Pernambuco, foi liturgia esverdeada na cana. Que também produziu inteligências desertoras. Embora fincadas, pela lembrança telúrica, no massapê da Mata. Fidelíssimas ao cheiro da terra. E aos valores democráticos. Exemplo mais sensível: Joaquim Nabuco.
Tragédias políticas. Pernambuco teve duas chances de alcançar a presidência da República. Agamenon e Eduardo Campos. Um, sertanejo legítimo. O outro, sertanejo por descendência. O sertão não virou mar.
Em 1952, Agamenon elegeu-se governador. Era, então, uma das grandes lideranças do Partido Social Democrata – PSD. Partido de Amaral Peixoto, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães. O Partido dividia-se em duas correntes: a dos antigos, da qual fazia parte Agamenon. E a dos novos, na qual estava Juscelino.
O encaminhamento natural dos fatos levava Agamenon à candidatura presidencial. Mas veio o infarto. E, em 1955, Juscelino foi eleito.
A segunda chance desapareceu na violência que cortou o voo do pássaro. Eduardo Campos, em dois meses de campanha, mostrou talento desmesurado. Evidenciando sinais de cenário verde amarelo. E legou marca ainda lembrada: “Não vamos desistir do Brasil”.
Estética pernambucana. Pernambuco tem dois filtros. Um, armorial, vem do sertão para o litoral. Ariano Suassuna. Outro, conceitual, sai do litoral para o universal. Aloísio Magalhães.
Pernambuco precisa ser filtrado. Retirando lixos. Escoimado. Apurando costumes. Esmerilhado. Definindo cores. Passado a limpo. No cartório da tolerância. Na escritura Suassuna. E no desenho Aloisiano.