Editorial Estragos da chuva, de novo

Publicado em: 20/11/2018 03:00 Atualizado em: 20/11/2018 06:44

As forças brutas da natureza não discriminam. Atingem países ricos e pobres. O Japão, por exemplo, sofre com terremotos e tsunamis. Os Estados Unidos, com tufões e ciclones. Mas, apesar da violência dos fenômenos, são poucas as perdas humanas, muito aquém dos estragos causados.

A razão é simples: o governo conjuga o verbo prevenir. Constrói abrigos, treina a população, armazena água e alimentos. Traça, também, plano de fuga. Os moradores em risco recebem instruções antecipadas para deixar a área. Assim, passado o perigo, retornam a casa e administram os prejuízos materiais.

No Brasil, o enredo é outro. Até as pedras sabem que as chuvas de verão chegam matematicamente ano após ano. Parecem marcadas no calendário como o Natal, o carnaval ou a Páscoa. Apesar da regularidade, porém, dão a impressão de que pegam de surpresa os administradores públicos.

Ruas viram lagos, rios transbordam, morros deslizam, enxurradas afogam carros, casas desmoronam, árvores expõem as raízes, famílias se desalojam, homens, mulheres e crianças perdem a vida. Este ano não foi diferente. Com a temporada as chuvas, as tragédias se sucedem.

Há menos de duas semanas, deslizamento do Morro da Boa Esperança, em Niterói, ceifou a vida de 14 pessoas e deixou 11 feridas. Temporal que se abateu sobre Belo Horizonte na quinta-feira matou três moradoras, tragadas pela violência da correnteza que se formou com a inundação das vias.

O Distrito Federal registrou transtornos em diferentes pontos do Plano Piloto e cidades próximas, além do alagamento da estação do metrô de Samambaia. O volume da água abriu crateras, fez estragos e provocou congestionamentos. Felizmente não ocorreram mortes.

A tragédia impõe medidas emergenciais — caras e insuficientes. Funcionam como bandeide destinado a conter hemorragia. Oneram os cofres públicos e não resolvem o problema. Especialistas apontam as causas que levam ao quadro de desespero observado todos os anos.

Entre elas, destacam-se duas: o crescimento desordenado e a derrubada de árvores. A urbanização contribui para tornar solo impermeável. Sem ter para onde escoar, a água se acumula e transforma ruas em rios. Não só. Lixo entope bocas de lobo, que ficam esquecidas na estação seca.

Medidas preventivas são necessárias. Uma delas: monitorar as áreas de risco. No Distrito Federal, há 41. Outra: reduzir as zonas impermeabilizadas. Mais: aumentar a vegetação para permitir que a água penetre no solo, pôr lixeiras nas calçadas a fim de evitar que garrafas, copos e sacos plásticos contribuam para o agravamento do quadro. Campanhas educativas também são importantes. O governo e população precisam fazer a lição de casa.

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