Editorial Bombas-relógio estão armadas

Publicado em: 14/11/2018 03:00 Atualizado em: 14/11/2018 06:09

Mais duas bombas-relógio esperam a equipe econômica do próximo governo — a mais recente foi montada pelo Congresso Nacional ao aprovar o aumento de 16,8% nos proventos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, consequentemente, a elevação do teto salarial do funcionalismo público e o efeito cascata provocado pela decisão. São duas questões explosivas que podem causar mais dificuldades para o futuro presidente da República: o subsídio do óleo diesel concedido pelo Palácio do Planalto para pôr fim à greve dos caminhoneiros, em maio passado, que deixou o país nas mãos dos transportadores rodoviários; e a tabela de fretes, outra concessão do poder central aos grevistas, que vem sendo contestada, sistematicamente, na Justiça.

A concessão de subsídios ao combustível, usado no transporte da produção do país por rodovias, vem sendo contestada por integrantes da própria equipe de transição do próximo governo. Com viés liberal, os próximos condutores da economia deram mostras de não concordar com o desembolso de recursos públicos para impedir o repasse automático do aumento do preço do petróleo para o diesel. Medida que expira em 31 de dezembro, cabendo à equipe econômica que assumirá o superministério da Economia renovar o benefício, negociar outra saída para o problema ou, simplesmente, pagar para ver se os caminhoneiros terão o mesmo poder de fogo de maio.

Juntamente com o tabelamento do frete, o fim do aumento diário do preço do combustível nas bombas nos pontos de abastecimento era uma das principais reivindicações dos motoristas, então, de braços cruzados. As medidas do governo para acabar com a paralisação do transporte rodoviário custarão ao Brasil R$ 13,5 bilhões apenas este ano, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ligado à Fundação Getulio Vargas (FGV). Além da tabela do frete e o subsídio para o controle do preço nas refinarias e distribuidoras, o acordo contemplou a redução do PIS/Cofins e da Cide sobre o combustível.

Analistas de mercado consideram que o tabelamento do valor do frete não foi uma decisão acertada do Planalto para reequilibar a atividade, que sofre com a superoferta de caminhões. A verdade é que, quando a crise mundial de 2008 bateu à porta do país, houve a liberação de crédito fácil e abundante para quem quisesse comprar um caminhão e começar a trabalhar na área. A questão colocada pelos especialistas é que, num primeiro momento, o caminhoneiro pode até ter ganho maior devido ao valor mínimo garantido pela tabela de frete fiscalizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas isso não é garantia de que haverá trabalho para todos.

O que se espera é que a nova equipe econômica encontre a melhor solução para destravar esse gargalo que pode representar perigo para a livre circulação da produção. A nação não pode ficar refém, mais uma vez, de uma categoria profissonal, por mais justos que sejam seus pleitos. Tem de se chegar a um ponto de equilíbrio, para que as debilitadas contas públicas não sofram mais sangrias com subsídios às atividades produtivas, mas sem maiores prejuízos aos responsáveis pelo transporte da maior parte da riqueza nacional.

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