Era uma vez...

Malude Maciel
Presidente da ACACCIL

Publicado em: 30/10/2018 03:00 Atualizado em: 30/10/2018 08:35

Nós, as crianças, ficávamos eufóricas quando “alguém” resolvia nos contar uma história de Trancoso. Já tínhamos a noção de que era ficção, mas a alma infantil se envolve nos contos e vive de fato aquele enredo de tal forma que, além de memorizar, tem o dom de saborear o momento e a maneira como e quando é transmitida a fábula. Elas sempre nos solicitam outros e outros relatos interessantes.

Muitos pais ou avós têm o salutar costume de contar ou ler histórias antes dos pequeninos dormirem. Às vezes devem ser repetidas aquelas que mais agradaram e, ai do contador se alterar alguma passagem aqui ou ali; logo vem a correção.

Naquela época os pequenos não participavam das conversas de gente grande (o que hoje não acontece), que ficavam dialogando numa sala e a meninada brincando à parte. Porém, quem não tentava escutar o assunto e ficar por ali, como quem não quer e querendo, a fim de saber o que era discutido? Os serviçais e as crianças bisbilhotavam a fim de se inteirarem do conteúdo do bate-papo.

Como só escutavam alguns pontos, davam asas à imaginação e passavam adiante como bem lhes convinha; parecendo a brincadeira do “telefone quebrado” que no final o recado dado inicialmente chega ao final totalmente deturpado.

Lembro que sobre eleição, ouvíamos dizer que muita gente recebia dos políticos a roupa nova pra usar na ocasião de ir votar. Incrível como eram manipulados os eleitores naquele hábito de aceitar doações mal intencionadas; algo em troca do voto no candidato do doador. Lógico que o voto é secreto, mas, essa era a maneira de “comprar” o outro com presentinhos e gentilezas. Pior é que atualmente ainda se usa essa prática com sucesso entre os incautos.

Outro assunto que prendia muito nossa atenção eram as lorotas e aqueles relatos de ocorridos que estavam mais para ficção do que para verdade. Desta forma era quando os compadres enveredavam por casos de “botijas”, que eram panelas, cofres ou depósitos onde a família guardava suas economias. Não havia bancos e debaixo dos travesseiros já era lugar comum. Também era a época do bando de Lampião que chegando num povoado, adentrava nas residências querendo dinheiro, joias e tudo de valor para custear suas andanças pelo sertão. Os pertences eram enterrados num recipiente e local que somente tal pessoa sabia. Porém, se essa pessoa morria no combate, ninguém mais tinha conhecimento da fortuna enterrada, a qual se chamava “botija”.

Contava-se ainda, que as almas penadas, angustiadas com a situação dos familiares que ficaram sem os bens, apareciam a um e a outro, indicando onde havia a “botija” pra ser encontrada pelo sortudo. Nisso os pormenores eram fantasiados de acordo com o contador e causavam suspenses aos ouvintes.

Esses relatos eram prato cheio para diversos outros contos, pois: “quem conta um conto aumenta um ponto”.

É a pura verdade.

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