Até o último voto

Ricardo Leitão
Jornalista

Publicado em: 19/10/2018 03:00 Atualizado em:

Ao longo de suas histórias as nações se defrontam com encruzilhadas, que exigem decisões sobre o caminho a seguir. Nesses momentos, o sentido escolhido marca, às vezes para sempre, indivíduos e gerações. 
Foram assim marcados os que apoiaram ou resistiram ao Golpe de 1964; serão assim marcados os que votarem ou se opuserem à eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.
Talvez não tenhamos consciência, mas estamos diante de uma das maiores encruzilhadas com que o Brasil já se deparou. Ela leva a dois futuros: um que traz de volta o pior do passado; outro que, apesar da sucessão de erros, ainda é portador de esperanças. A democracia nos assegura o direito de escolher um dos dois caminhos no próximo dia 28. Qual será a sua escolha?
O voto é livre e secreto. Porém, a poucos dias das urnas eletrônicas, é dramaticamente urgente saber e fazer saber que Bolsonaro representa uma ameaça à democracia – na qual forceja em sua escalada reacionária.
Ao valer-se da intolerância, da violência, da mentira, do ódio e do medo como diretrizes de campanha que faz apologia à tortura, ele – como líder – estimula e autoriza que gangues de bolsonaristas, insultem, firam e até assassinem adversários. No caso dos insultos, de preferência dirigidos a mulheres “feias” que, em declaração dele na Câmara dos Deputados, sequer “merecem” ser estupradas.
É um dever político, cívico e moral derrotar Jair Bolsonaro. Sua vitória significará que a maioria dos eleitores estará legalmente chancelando o retorno do autoritarismo como sistema de governo. Pior do que na ditadura, quando o poder foi tomado pela força das armas.
Quem tem a capacidade de mudar ao menos um voto pró-Bolsonaro tem também a obrigação de fazê-lo. Não só pelo reacionarismo radical do capitão da reserva do Exército, mas porque o bolsonarismo não reúne condições de governar o Brasil. Jair Bolsonaro aprofunda a divisão de uma nação já fracionada por outros radicalismos. Ele não tem quadros técnicos. São desconhecidos seus projetos sobre o combate ao desemprego, o ajuste fiscal, a reforma da Previdência, a reforma tributária, a reforma política, o papel do Estado, o comércio externo, o alcance das privatizações, propostas para a educação, a saúde, o agronegócio, a cultura e políticas de segurança emergenciais, de médio e de longo prazos.
Sobre essa última questão, ao discursar para cerca de mil empresários, em São Paulo, ele explicou como enfrentaria a criminalidade na Rocinha, favela do Rio de Janeiro onde vivem 250 mil pessoas. Bolsonaro disse que daria seis horas para os bandidos se renderem e, encerrado o prazo, os atacaria com helicópteros equipados com metralhadoras. Não se estendeu quanto ao risco de centenas de inocentes morrerem atingidos por balas perdidas. Foi ovacionado pelos presentes.
Como derrotar Jair Bolsonaro? Intensificar e ampliar o que já está sendo feito é um dos caminhos: mais manifestos de instituições, mais declarações de lideranças, mais articulações nas redes sociais e pessoais, mais atos públicos, mais diálogo, mais argumentos.
Até o dia 28, quando serão abertas as urnas do segundo turno, lutar todo dia, o dia todo, com as armas com que cada um saiba melhor lutar. Há tempo. Sempre haverá tempo até que tenha votado o último eleitor. Vencemos a ditadura no passado e milhares deram por isso suas vidas. Pelas vidas dos nossos filhos e netos, temos o dever agora de vencer o autoritarismo que tenta voltar, travestido de Jair Bolsonaro. Ele não, nem nenhum outro igual a ele.


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