Encontrão reafirma a leitura entre nós

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 15/10/2018 03:00 Atualizado em: 15/10/2018 09:15

Sempre contestei, e até veementemente, as pesquisas que destacam a falta de leitura entre os brasileiros. Não é verdade. Nunca foi verdade. Não somos eruditos, temos deficiências, mas lemos em larga escala. A minha experiência é de um escritor que percorre as escolas públicas de Pernambuco e do Brasil, sempre a serviço da literatura e da leitura. Faço isso há quarenta anos. Invariavelmente.

Há cerca de um ano fui procurado por um clube de leitura – Florliterária – que pretendia ocupar o centro cultural com debates sobre autores brasileiros e internacionais. Claro que cedi o espaço. Depois o grupo foi para a Casa Azul de Samarone Lima e chegou a ocupar a Academia Pernambucana de Letras para debater Cícero Belmar e Luzilá Gonçalves Ferreira.

Mas foi pouco, muito pouco, fiquei feliz com a descoberta, logo me informaram que existem 24 clubes de leitura do Recife e Região Metropolitana. Agora esses grupos estão empenhados em realizar um encontrão de leitores no próximo mês, com o patrocínio do Sesc. Inimaginável num país sem leitores.

Não somos lidos pela elite ou a pretensa elite- em absoluta decadência -, uma classe que se sente estrangeirada, com olhos na Europa, imaginando-se franceses ou ingleses, gente que vive querendo morar fora do Brasil, mas somos lidos pela classe média ou pela classe pobre que nos acompanha sempre e sempre. Compra os nossos livros debate, examina, questiona. Até porque o conceito de pobreza mudou muito. Os pobres estão chegando às universidades, aos cursos superiores. Nas escolas nós lemos e debatemos com alunos e professores.

E daí vem essa história de que brasileiro não lê. Os colégios particulares tiveram algum tempo de leitura, mas de repente pararam com os livros, os debates, as palestras, sobretudo a partir do surgimento dos cursinhos com a didática superficial. Decorou aqui e ali está bom, não precisa mais estudar.

O que importa, todavia, é que desaparece aqui a lenda de que o brasileiro não lê. Muitas vezes se confunde a crise de vendas com a crise de leitores. Uma coisa nada tem a ver com outra. São coisas bem distintas, sobretudo nestes tempos de internet. Os leitores continuam, nem sempre comprando muito.

Espero com muita ansiedade a realização do encontrão de leitores que mostra o fim de uma lenda alimentada por organismos nem sempre preocupados com Brasil de verdade. Com o Brasil real. Mesmo sem sofisticação, somos um país em que se lê o necessário.

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