Editorial Educação desafia os presidenciáveis

Publicado em: 13/10/2018 03:00 Atualizado em: 12/10/2018 20:21

O Brasil destina 6% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação. Os gastos superam os de países vizinhos, como Argentina (5,3%), Colômbia (4,7%) e México (5,3%). O país chega a investir mais do que os Estados Unidos (5,4%), a maior potência mundial. Está ainda acima da média (5,5%) das nações integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas os resultados têm sido pífios, revelam as sucessivas edições do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). No último exame, em 2016, a maioria dos estudantes não tem compreensão do conteúdo dos textos nem consegue fazer as quatro operações básicas de matemática. Entre 70 países, o ensino brasileiro ocupa a 63ª posição em ciências, a 59ª em leitura e a 66ª em matemática.

Entre especialistas nacionais e estrangeiros há consenso de que, sem uma política de educação que garanta o direito à aprendizagem de crianças e adolescentes, o país não conseguirá vencer a crise econômica na qual está mergulhado e se reencontrar com o desenvolvimento social. Sem qualquer vínculo político-partidário, o Movimento Todos pela Educação repassou aos presidenciáveis, ainda na primeira fase da campanha eleitoral, sete pontos para ajudá-los na formulação de políticas públicas para o setor. O documento inclui aprimoramento do processo de alfabetização na idade certa, criação de um sistema nacional e mudanças legais no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb), de modo a torná-lo permanente.

Neste momento, o país está na reta final da disputa pela Presidência da República. O plano de governo do capitão Jair Bolsonaro, candidato do PSL, tem como prioridades a educação básica e os ensinos médio e técnico. Ele pretende modificar a metodologia escolar, revisar os conteúdos, “expurgar” a ideologia de Paulo Freire, a fim de impedir a aprovação automática e os aspectos disciplinares dentro das escolas. Mas não só isso. Bolsonaro se opõe ao sistema de cotas sociais e étnicas nas universidades. Entende que é necessário fomentar o empreendedorismo na faculdade; ampliar o ensino de disciplinas, como matemática, ciências e português, “sem doutrinação e sexualização precoce”.

Para ele, ainda são necessárias mudanças na educação a distância, que deveria ser vista como importante instrumento, e não vetada de forma dogmática”. Ele está convicto de que não é preciso aumentar o orçamento da educação e que “é possível fazer muito mais com os atuais recursos”. Bolsonaro pretende transformar o Brasil em centro mundial de pesquisa e desenvolvimento de grafeno e nióbio, minerais que seriam abundantes no território nacional e capazes de agregar valor à indústria metalúrgica.

O adversário e candidato pelo PT, Fernando Haddad, quer investir 10% do PIB em educação, revogar a Emenda Constitucional 954, que impôs um teto para os gastos públicos, e retomar os royalties do petróleo e do Fundo Social do Pré-Sal. O plano de governo do petista prevê ajustes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), criação da Escola com Ciência e Cultura e retomada dos investimentos na educação do campo, de indígenas e de quilombolas. Como professor universitário, ele pretende qualificar o ensino público para que seja referência nos estados e municípios.

Independentemente do matiz ideológico, sem redução das conquistas sociais, assegurar qualidade à educação é política que se impõe para retirar o país da atual estagnação socioeconômica. Negligenciar o direito de crianças e jovens à aprendizagem significa aprisionar o futuro do país ao subdesenvolvimento. O Brasil não merece continuar patinando no século passado.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.