Nos evangelhos de Matheus, Lucas e Marcos, depreende-se um dos mais profundos ensinamentos do Mestre Jesus: “Desfaze-te de todos os teus bens e segue-me“. Teria Jesus, com isso, pretendido condenar toda a riqueza do mundo como um instrumento de perdição? Decerto que não. Segundo pensamos, não intentou o Cristo que nós nos despojássemos de tudo o que possuímos. Seria defender a destruição da riqueza como algo prejudicial à nossa felicidade e ao bem comum. A intenção dEle, ao proferir tais palavras, parece ter sido muito mais no sentido de nos alertar para os perigos do apego à riqueza, que pode causar danos sem conta, em razão da vertigem narcísica que excita o orgulho e o egoísmo humanos, em prejuízo de si e dos outros.
Com efeito, a riqueza é neutra como um phármakon. Se, por vezes, seguem-se dela más consequências, não seria justo a ela inculpar, mas, antes, àquele a quem cumpre o dever de bem aplicá-la, como ocorre com certos medicamentos que dependem de uma determinada dosagem e em cuja utilização é levado em conta um propósito específico a depender do diagnóstico. A riqueza é, pois, boa ou má, segundo a aplicação que se lhe dê. Neste sentido, o bom uso da riqueza é poderoso instrumento de progresso intelectual e, conseguintemente, material: Quanto mais avançamos em matéria de educação, mais aptos estaremos para o trabalho produtivo em todas as áreas da vida, ensejando que o Brasil acolha, com Justiça, toda a população que a sua extensão comporta.
É nesse contexto de imensurável potencial da riqueza material para o progresso do nosso país, que nós parabenizamos o Tribunal de Contas de Pernambuco, pelo advento dos seus 50 anos dedicados à missão de orientar e fiscalizar a gestão pública em benefício dos enfermos que sofrem nos hospitais a carência da saúde física, da comunidade dos famintos da educação aprisionados nas celas da ignorância, dos hipotrofiados da segurança que vivem uma existência amedrontada, dos desnutridos da merenda abatidos no aprendizado escolar, dos infortunados dos transportes impedidos de usufruir dos seus direitos fundamentais, em suma, de toda a sorte dos lázaros da aflição.
Não se pode, ademais, olvidar da Escola de Contas Públicas Professor Barreto Guimarães, que no último mês de agosto completou 20 anos de existência, desempenhando o papel primordial de tornar servidores cada vez mais bem preparados para suas funções de controle da aplicação da verba pública em nosso Estado, bem como de formar gestores ainda mais inteligentes e laboriosos no uso dessa riqueza, e mais sóbrios e previdentes no ato de conservá-la, em prol dos avanços da Pátria do Cruzeiro.
Com essas considerações, a comemoração pelo advento das cinco décadas do TCE-PE, no próximo dia 15 de outubro, é um evento especial que vem celebrar a existência de um dos Órgãos de Controle mais respeitados do país, porquanto comprometido com a consolidação de um espaço institucional de melhoria da administração pública, orientado pelos mandamentos da Ética e da Transparência, do Comprometimento e da Efetividade, da Coerência e da Imparcialidade.

* Professor e coordenador da Ouvidoria do TCE-PE