De 2013 a 2018

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 09/10/2018 03:00 Atualizado em: 09/10/2018 08:42

Em 2013 o Brasil explodiu numa série de manifestações espontâneas, apartidárias, suprapartidárias e antipartidárias, num protesto pela renovação da política, pela ética na vida pública, que até hoje confunde os analistas. Esses protestos só arrefeceram diante da intromissão (proposital?) de uns “black  blocs” (infiltrados?), que, promovendo saques, depredações, badernas e outros vandalismos,  não só contaminaram a natureza daquelas manifestações como sobretudo afastaram a grande massa que queria protestar, mas em ordem e em paz. Seja por isso, seja pela incapacidade dos políticos, que não entenderam aquela hora e não procederam a renovação alguma, o fato é que a voz das ruas de 2013 não se refletiu nas eleições de 2014. Terá tido uma primeira expressão, admirável, inédita, no heroísmo dos juízes da Lava-Jato. E pode ser que também se esteja expressando agora. Senão, vejamos.

1. Dos 33 senadores que tentaram se reeleger, 25 foram derrotados, inclusive nomes dos mais conhecidos e influentes. Isso significa importante renovação no Senado.

2. Consagradas lideranças perderam o foro privilegiado e passarão a poder ser processadas na 1ª instância, não mais contando com a lentidão e a inaptidão do Supremo para a instrução processual. Perspectivas, portanto, de afastamento da vida pública, por condenação criminal, de notórias e lamentáveis personagens.

3. Fim de carreira para surradas figuras da política nacional. É de esperar que jamais voltemos a ouvir falar, ao menos em disputas presidenciais, de nomes manjados como Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva, Aécio Neves, Dilma Roussef. Doravante os nomes serão outros, novas lideranças de um lado e do outro.

4. Importantes derrotas também de outros nomes que, mesmo querendo ingressar na política agora, parecem muito ligados à velha política  – um Paulo Skaff em São Paulo, ou um Henrique Meirelles, que o Brasil felizmente resolveu não “chamar” para nada e que, com seus 45 milhões de reais, perdeu para o cabo Daciolo!

5. Impressionante enfraquecimento dos partidos que viviam dominando a cena brasileira: PSDB, PT, PMDB, cujas lideranças tradicionais foram refugadas pelo eleitor. Ou se renovam ou podem tender a desaparecer.

6. Surpreendente, por outro lado, o desempenho de nomes desconhecidos, ou muito pouco conhecidos, como Wilson Witzel, no Rio, Romeu Zema em Minas, Márcio França em São Paulo. Arejamento da política. Lideranças novas, pensamentos novos, até um novo partido, o Novo.

Por mais que os velhos políticos, da imunda e viciada política habitual, tenham feito tudo para se manter no poder, não somente se dando fartos recursos públicos mas também diminuindo substancialmente o tempo da campanha eleitoral, para facilitar a reeleição dos próprios nomes, já muito conhecidos – a evidência é que o eleitor quer mudar, quer outra gente, outro Brasil, outra prática. Léguas distante da corrupção, das trocas, dos cambalachos, do toma-lá-dá-cá, dos donos ou sócios da coisa pública. Pode ser que, afinal, 2013 esteja começando a dar seus frutos.

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