Em mãos erradas

Francisco Dacal
Administrador de Empresas

Publicado em: 07/09/2018 03:00 Atualizado em: 07/09/2018 11:03

É norma que toda empresa privada e de economia mista, bem como entidades públicas, para entrar em funcionamento têm que estar de posse dos documentos de regularidades aprovados. Periodicamente eles devem ser renovados, nas datas estipuladas, em geral uma vez ao ano, quando são fiscalizadas, para assim se manterem. Dentre eles, existe o Alvará de Localização e Funcionamento, da Administração Municipal, que é básico à abertura do estabelecimento, e o Atestado de Vistoria do Corpo de Bombeiros, que é essencial à segurança e preservação do patrimônio físico e das pessoas. Então, qualquer organização só pode cumprir seus objetivos, prestar os serviços planejados, em plenas condições, atendidos os requisitos exigidos à sua saúde operacional, e com um plano de contingência para combater, no devido tempo, fatos fora da normalidade que possam vir a causar prejuízos ou solução de continuidade.

Nesse sentido, os gestores do Museu Nacional e da UFRJ, engajados políticos, demonstraram que estavam distantes da responsabilidade do que tinham em suas mãos – o Museu Nacional, nosso equipamento cultural mais importante, um dos maiores da América Latina.

O trágico incêndio ocorrido na noite do dia 2 de setembro, que dizimou 90% do inestimável acervo do Museu Nacional reunido em 200 anos, de mais de 20 milhões de itens, é resultado da extrema insensibilidade e da omissão diante de tantas deficiências e problemas no local, agora tornados público. Avisos de uma iminente tragédia não faltaram. Nesse momento, tergiversar é dureza. Ao que parece, pelas notícias, os órgãos que deviam fiscalizar o correto funcionamento da entidade prevaricaram.

Manuscritos, impressos, livros, quadros, utensílios domésticos do Império, artefatos humanos, achados arqueológicos, múmias egípcias, coleções antropológicas e outras preciosidades de várias épocas, riquezas nossas e de outros povos, em poucas horas foram incinerados.

É cedo para saber a real tamanho deste monstruoso sinistro. Que logo façam uma ampla investigação, e, nas conclusões, que se punam os culpados.  Não tem como não haver.

Lamentavelmente, sucessivos governos sempre deram de ombros ao Palácio da Quinta da Boa Vista, como o museu é também conhecido. É inacreditável que o último presidente a visitá-lo foi Juscelino Kubitschek. Dos mais recentes, não se conhece nenhum apoio. A classe política está muda.

É triste, muito triste. O Brasil perdeu centenas de anos de sua história. Chora a alma da nação. O que dizer a seus filhos? Dom Quixote, em um dos seus sonhos, diria: “Não desviem o caminho da verdade, cuja mãe é a história, êmula do tempo, depósito das ações, testemunha do passado, exemplo e aviso do presente, advertência do porvir”.

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