Os estudantes, a gramática e Conceição Evaristo
Raimundo Carrero
Escritor e jornalista
Publicado em: 03/09/2018 03:00 Atualizado em: 03/09/2018 08:48
Aprendi desde criança que a língua é criada pelo povo, até porque é dinâmica - o que significa dizer que é criada e recriada a todo instante. Mas nunca foi assim na escola. A gramática conservadora e retardada continua a mesma, com raras exceções dos acordos gramaticais. As regras gramaticais são as mesmas, absolutamente as mesmas.
Por isso a dinâmica da língua não interessa aos estudiosos. Os escritores trabalham incessantemente com esta dinâmica sendo Guimarães Rosa o mais radical. Os grandes movimentos literários deste país se preocuparam muito com a linguagem.
O regionalismo repetia os chamados erros gramaticais porque documentava a região. Por isso José Lins do Rego usa um “quando me acordei naquele dia”, Ora, ninguém se acorda, simplesmente acorda.
O grande Graciliano Ramos, profundamente preocupado com o Português gramatical, conservador e estático, para não usar a linguagem social recorre a palavras confusas para mostrar o analfabetismo de Fabiano. Quando soldado amarelo convida-o para um jogo de baralho, ele responde assim:
- Pode ser, quem sabe, é conforme.
Ou seja, Graciliano reconhece a ignorância do personagem, mas inventa a linguagem, de forma que o leitor identifica o problema, mas não é obrigado a engolir um:
Oxente, pru mode a minha vontade de jogar, rejeito o pedido.
O narrador conta aquilo que o autor inventa. Mas não deixa de reconhecer a questão. Graciliano era conservador na linguagem, mas sabia conciliar e entender a dinâmica da língua.
Portanto, não adianta maltratar jovens e professores; a ignorância é de quem planejou a pesquisa que, dizem foi promovida pelo MEC. A questão é criticar o PT, mas atinge os estudantes e os professores. Concluindo – a gramática escolar, não acompanha a linguagem social.
Tudo isso me leva a pensar na escritora Conceição Evaristo, negra e popular, que foi recentemente rejeitada pela Academia Brasileira de Letras que continua a, historicamente, de costas para a sociedade. Repete-se e Conceição Evaristo o exemplo de Lima Barreto.
Por isso a dinâmica da língua não interessa aos estudiosos. Os escritores trabalham incessantemente com esta dinâmica sendo Guimarães Rosa o mais radical. Os grandes movimentos literários deste país se preocuparam muito com a linguagem.
O regionalismo repetia os chamados erros gramaticais porque documentava a região. Por isso José Lins do Rego usa um “quando me acordei naquele dia”, Ora, ninguém se acorda, simplesmente acorda.
O grande Graciliano Ramos, profundamente preocupado com o Português gramatical, conservador e estático, para não usar a linguagem social recorre a palavras confusas para mostrar o analfabetismo de Fabiano. Quando soldado amarelo convida-o para um jogo de baralho, ele responde assim:
- Pode ser, quem sabe, é conforme.
Ou seja, Graciliano reconhece a ignorância do personagem, mas inventa a linguagem, de forma que o leitor identifica o problema, mas não é obrigado a engolir um:
Oxente, pru mode a minha vontade de jogar, rejeito o pedido.
O narrador conta aquilo que o autor inventa. Mas não deixa de reconhecer a questão. Graciliano era conservador na linguagem, mas sabia conciliar e entender a dinâmica da língua.
Portanto, não adianta maltratar jovens e professores; a ignorância é de quem planejou a pesquisa que, dizem foi promovida pelo MEC. A questão é criticar o PT, mas atinge os estudantes e os professores. Concluindo – a gramática escolar, não acompanha a linguagem social.
Tudo isso me leva a pensar na escritora Conceição Evaristo, negra e popular, que foi recentemente rejeitada pela Academia Brasileira de Letras que continua a, historicamente, de costas para a sociedade. Repete-se e Conceição Evaristo o exemplo de Lima Barreto.