Reação do desemprego em Pernambuco

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/09/2018 03:00 Atualizado em: 02/09/2018 21:17

Os dados sobre desemprego publicados pelo IBGE nesta semana mostraram que a economia de Pernambuco finalmente começa a reagir, mesmo que atrasada em relação ao resto do país e do Nordeste. Aquelas que têm sido as causas particulares que atingiram Pernambuco parecem que estão finalmente sendo superadas pelo impulso gerado a partir da demanda fomentada pela reação da economia dos outros estados brasileiros. A falta de pagamentos do Governo do Estado aos seus fornecedores e o consequente colapso do crédito na economia, que tem forçado a tantas empresas a encolherem suas produções ou mesmo a fecharem as portas, agora está sendo superada pelo fomento vindo da integração de nossa economia com os demais estados. A maior participação do investimento no PIB no início da crise levou a maior queda da renda e do emprego aqui, mas isso justificou o pior desempenho do emprego no início da crise, mas não é motivo para a recuperação mais atrasada, como tem ocorrido. Políticas públicas inadequadas respondem por essa lentidão e atraso na recuperação.

Os dados publicados pelo IBGE para a taxa de desemprego no segundo trimestre mostram que essa taxa vem caindo no Brasil pelo terceiro trimestre consecutivo. No Nordeste como um todo, essa mesma sucessão de quedas foi confirmada pelos dados. Pernambuco, contudo, teve queda apenas no segundo trimestre de 2018, quando se compara ao mesmo período de 2017. Ou seja, só agora a taxa começou a cair no estado, movimento bem atrasado em relação ao resto do país e região. O mesmo que se passou no estado agregado, ocorreu também na Região Metropolitana do Recife. No interior do estado (PE-RMR) também só nesse último trimestre houve queda efetiva, mas de forma bem mais radical do que no estado. A taxa de desemprego no interior tem se mantido abaixo da média estadual desde o último trimestre de 2015. Mas a dinâmica temporal tem acompanhado a tendência da RMR. Essa, sim, tem sido o verdadeiro calcanhar de Aquiles da economia pernambucana.

A crise foi a mesma para todo o país. Foi gerada pelas políticas macroeconômicas irresponsáveis da presidente Dilma Rousseff. A situação que a economia de nosso estado se encontrava em 2014, com muitos investimentos públicos e privados, fez com que ela fosse mais forte aqui. No entanto, a maior lentidão na recuperação já é por obra e graça das políticas seguidas pelo governo do estado. Ao não pagar seus fornecedores, ele criou um passivo corrente de mais de R$ 2,5 bilhões. Esse levou a piora dos balanços dos fornecedores do setor público, que por sua vez também tiveram que recorrer ao calote aos seus fornecedores e que também viram seus balanços deteriorarem, e assim sucessivamente. Esse processo desencadeou queda no acesso a crédito às empresas pernambucanas e com isso maior encolhimento e dificuldade de retomada da produção e do emprego. Qualquer estimativa razoável mostra que essa postura do governo do estado custou cerca 84.000 mil empregos em Pernambuco. Ou seja, a política do nosso governo causou para 8
4.000 pessoas o sofrimento que só mesmo quem já esteve desempregado sabe o que é. Como se não bastasse os demais 635 mil desempregados em Pernambuco pelos problemas nacionais.

A queda de receitas foi uma realidade enfrentada pelo Governo desde 2014 e tem sido utilizada como causa dessa postura governamental. Mas em épocas de crise, tem que se ter criatividade para encontrar novas soluções. Isso foi o que faltou ao governo desde então. Novas formas de gerar receitas e de elevar o endividamento poderiam ter feito uma diferença grande, principalmente quando se considera que Pernambuco é pouco endividado, comparado aos demais estados da federação. A cultura de auditor prevaleceu na gestão econômica e isso não dá certo nem aqui e nem em lugar nenhum. Perdemos todos nós por essa postura medíocre e conservadora. Os desempregados pagaram a maior parte da conta.

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