Editorial A urgência do crescimento

Publicado em: 01/09/2018 03:00 Atualizado em: 02/09/2018 21:17

A economia brasileira cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre do ano, reforçando a fragilidade do consumo e da produção. Depois de dois anos de profunda recessão, o país ainda não conseguiu recuperar o fôlego para se expandir com força, reduzir o desemprego e ampliar a renda da população. Os dados desanimadores do Produto Interno Bruto (PIB) devem servir de alerta aos candidatos à Presidência da República. Para tirar o Brasil do atoleiro, não bastarão promessas — essas, muito fáceis de serem entoadas nas campanhas eleitoraIs. Será preciso ação. E muita responsabilidade.

É verdade que o raquítico desempenho do PIB entre abril e junho decorreu, em boa parte, da greve dos caminhoneiros, que parou o parque industrial e provocou desabastecimento, sobretudo de produtos in natura e de combustíveis. Mas a revisão dos indicadores feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a fragilidade da economia vinha de muito antes. O crescimento do quarto trimestre de 2017 recuou de 0,1% para zero. Nos primeiros três meses deste ano, a taxa de expansão passou de 0,4% para 0,1%. Ou seja, o país está mergulhado em uma estagnação alarmante.

Os principais motores da economia estão rateando, a começar pelo consumo das famílias, com avanço de 0,1%. O desemprego elevadíssimo — 12,9 milhões estão sem trabalho e 4,8 milhões desistiram de se recolocar no mercado por total desalento — tirou renda dos lares. Com a paralisação do transporte de cargas, os preços subiram, reduzindo ainda mais o poder de compra. Para completar, o país mergulhou numa clima de incerteza por causa das eleições. Quem pôde, adiou o consumo temendo ser surpreendido por uma nova e grave crise econômica, o que não está longe de ocorrer, dependendo de quem sair vencedor das urnas em outubro próximo.

A demanda se manteve fraca, mesmo com a taxa básica de juros (Selic) no nível mais baixo da história: 6,5%. Esperava-se que, com o custo do dinheiro nesse patamar, tanto o consumo quanto os investimentos produtivos disparassem. Mas o que se vê é só frustração. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), usada, por exemplo, para medir o ritmo de expansão de fábricas, tombou 1,8% no segundo trimestre. Dois fatores estão por trás desse resultado. O primeiro, e mais forte, é a confiança. Os agentes econômicos não querem se comprometer com o futuro, tamanha a falta de previsibilidade do que será o Brasil a partir de 2019. O segundo é a recusa dos bancos em reduzir as taxas cobradas da clientela.

O longo caminho a ser percorrido, portanto, exige muita prudência. Não haverá espaço para experimentalismos ou populismos. Para voltar a crescer, o Brasil precisa de reformas, especialmente a da Previdência Social, de estímulos ao setor produtivo (isso não significa mais subsídios) e de garantia aos consumidores de que poderão assumir compromissos sem o risco de retrocessos no horizonte. Ninguém contesta o potencial de crescimento do país. Mas, para que esse potencial traga benefícios para todos, quanto mais as regras do bom senso forem respeitadas, mais rápido se poderá colher os frutos. É esperar para ver.

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