Difícil de entender? Mas necessário tentar

Thiago Modenesi
Professor da cadeira de Ciência Política e Direito Eleitoral do curso de Direito e do Mestrado em Inovação e Desenvolvimento %u2013 MPID da UNIFG e do Mestrado em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste da UFPE.

Publicado em: 03/08/2018 03:00 Atualizado em: 03/08/2018 09:16

Acabou a Copa e se aproximam as eleições, com isso o clima vai esquentando, em particular nesta de 2018, mais do que nunca na história da Nova República. Vale dizer que o que está em disputa é a gestão do Estado de tipo burguês, não há processo revolucionário em curso, parece ridículo dizer isso, mas a maneira como alguns têm tratado a disputa carece de base real no regime republicano de tipo burguês.

Primeiro Montesquieu e Locke lutaram e muito para garantir a divisão dos poderes dentro do Estado de tipo burguês na antiguidade, chegando ao formato de hoje dividido em três poderes, na atualidade é muito questionada a preponderância do judiciário no momento político que o país atravessa.

Já Aristóteles e Platão falavam em um Estado que podia chegar ao máximo entre 5.000 a 10.000 pessoas, imagine só! Hoje falamos de Estados nacionais com milhares, milhões de habitantes! Como isso pode não ter crises? O velho Marx dizia inclusive que essas crises eram inerentes aos Estados quando se tornaram capitalistas.

Chegamos ao século 21, o Brasil sofreu os efeitos de uma megacrise internacional seguida por uma quebra democrática violenta, você pode até dizer que não concorda, mas entrará assim para os livros de História, e vamos rumo a uma eleição nesse ambiente...

Dos governadores de estados brasileiros apenas dois ou três conseguem ser bem ou razoavelmente avaliados, o presidente ostenta mais de 90% de reprovação, Pernambuco sofre os reflexos deste ambiente como um todo.

Faço aqui essa ponderação porque busco entender o que pensam aqueles que enquadram o governador Paulo Câmara como golpista, é possível definir a biografia de políticos de maneira tão pontual? Senão vejamos: o senador Armando Monteiro disputou a última eleição ladeado por Dilma, agora o fará ladeado por Temer, pelo DEM e pelo PSDB, difícil engolir, não é mesmo?

A vereadora Marília teve sua origem política no PSB do velho Miguel Arraes, depois migrou para o PT, então tudo que ela viveu e opinou antes de mudar de partido não vale nada, mas Paulo Câmara deve ficar marcado pela votação do impeachment, na qual ele nem votou, para o resto da vida?

Raciocinar assim é negar a natureza do jogo eleitoral, foram raros os momentos, praticamente inexistentes na Nova República, em que um partido teve força e hegemonia para governar sozinho.

Dilma caiu justamente por perder a maioria e, me desculpem, alianças não se celebram entre iguais, mas sim entre diferentes, refletindo a diversidade e complexidade do Estado burguês, aqui estamos buscando o resultado que, em tese, melhore a vida da grande maioria da população, e esta população também é plural.

E mesmo os ditos revolucionários avessos à junção de partidos para disputar o pleito que se avizinha deviam lembrar que na Revolução Francesa burguesa e na Revolução Russa socialista as alianças foram amplas e decisivas para tomada do poder.

No Brasil não há ambiente de ruptura revolucionária, há a reconstrução do ambiente democrático, a retomada do processo eleitoral constitucional, a eleição dificilmente não terá dois turnos, aí que as alianças serão amplas e plurais na segunda etapa do pleito mesmo.

Na minha visão ter compromisso com a democracia é virar essa página, celebrar alianças amplas e analisar os atores políticos pelo conjunto da obra e não por episódios isolados, por mais relevantes e marcantes que estes tenham sido.

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