Editorial Não ao aumento de juros

Publicado em: 18/06/2018 03:00 Atualizado em: 18/06/2018 08:52

Unanimidades são raras em nações democráticas. Raras, mas não impossíveis. Talvez o Brasil esteja vivendo um momento em que esquerda, direita ou nem uma coisa nem outra concordam com um fato: o país precisa crescer com urgência. Com 28 milhões de desempregados ou subempregados, tem de criar postos de trabalhos. Para atingir o objetivo, a saída é uma só — o incremento sustentável da economia.

O óbvio, porém, nem sempre é ululante. Há quem jogue contra a saída apontada pelo bom senso e pela ciência econômica. O Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se na próxima semana. A aposta do mercado é de elevação da taxa de juros. Estimativas do percentual variam. Cerca de 60% preveem salto de meio ponto percentual na Selic. Outros ficam com 0,25.

Seja qual for índice, será tiro no pé. A esperada recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) se derrete com preocupante rapidez. Em janeiro de 2018, esperava-se incremento de 3%. Hoje, as estimativas convergem para abaixo de 2% ou, até, 1%. Há o temor de que os 10 dias em que os caminhoneiros cruzaram os braços tenham azedado ainda mais o ambiente econômico e, com isso, deteriorado o cenário otimista. Pergunta-se até onde pode chegar e qual o alcance futuro. Nem mesmo o anúncio, na sexta-feira, do IBC-Br (índice de atividade do Banco Central) trouxe alívio. O resultado de abril sobre março, com elevação de 0,46%, é visto como algo já muito defasado. No de maio, e que veremos o impacto do protesto.

Não faltam motivos para preocupações. Entre eles, dois sobressaem. O primeiro é a incerteza eleitoral. Nenhum candidato ao Palácio do Planalto se comprometeu com as reformas indispensáveis para o país superar as dificuldades acumuladas ao longo de anos e trilhar o caminho do desenvolvimento. Pior: alguns falam em reverter avanços do governo Temer. Entre eles, a fixação do teto de gastos e a reforma trabalhista. O aceno é, pois, de ampliação dos impasses fiscais.

Outra causa de apreensão é o contexto internacional. O mundo se acostumou a conviver com as taxas de juros americanas excepcionalmente baixas. Agora, o Federal Reserve Bank (Fed) acaba com o interregno benigno e volta ao paradigma normal. Capitais aplicados em mercados emergentes atraídos pelas elevadas taxas de juros perdem a razão de correr riscos. Preferirão ambiente mais seguro. O Brasil, avesso a cultura de longo prazo, deixou escapar a oportunidade de fazer as reformas. Entre elas, a da Previdência.

Agora, o desafio é maior. O dólar sobe, a despeito das intervenções do Banco Central. A bolsa cai. As contas públicas pedem socorro. O consumo não reage. Nesse cenário, falar em aumento de juros soa desatino. Seria remédio forte demais para um enfermo debilitado. O país precisa reconquistar a confiança dos investidores, o que passa, necessariamente, por apresentação concreta das propostas dos candidatos à Presidência da República. Elas têm de demonstrar a possibilidade de equilíbrio entre o que entra e o que sai dos cofres públicos. O Estado, vale lembrar, não tem o poder de criar riquezas. Pode apenas organizá-las e distribuí-las. Fora isso, é vender ilusão.

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