Decepções em uma crise estendida

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/06/2018 03:00 Atualizado em: 04/06/2018 09:06

As projeções mais recentes para o crescimento do PIB brasileiro em 2018 recuaram razoavelmente. Elas reduzem a expectativa de crescimento de 2018 da ordem de 2% para algo próximo a 1,5%. Com isso, retiram das expectativa do PIB desse ano algo superior a R$ 33,0 bilhões. Isso significa que o setor público como um todo (Federal, estaduais e municipais) deve ter perdido uma expectativa de arrecadação de cerca de R$ 10,6 bilhões, valor quase igual ao custo fiscal da greve dos caminhoneiros no ano, com as medidas prometidas. Obviamente, o referido movimento de coação à população não foi o responsável por essa perda, apesar de ter fortalecido a probabilidade de que tais expectativas mais pessimistas venham a se concretizar. O grande problema tem sido a fragilidade e incapacidade do governo federal de realizar as medidas necessárias para tornar a economia mais competitiva e com perspectivas mais sólidas de ajuste fiscal. A aprovação de uma reforma da Previdência radical como a proposta inicialmente pelo governo atualmente consiste na mais importante dessas medidas.

O Brasil está a quatro meses de uma eleição presidencial, em que boa parte do Congresso Nacional também poderá mudar. Diante disso, as propostas dos candidatos com alguma viabilidade eleitoral passam a ser bem importantes no desempenho econômico hoje, pois o presente depende muito das expectativas quanto aos desenvolvimentos futuros. Infelizmente os candidatos com potencial têm optado pela postura populista, defendendo conjuntos de ideias incompatíveis entre elas e que facilmente trarão mais problemas, dadas suas bases irrealistas teórica e empiricamente. As expectativas, então, são que teremos em 2019 um novo 2015, com o(a) presidente eleito(a) traindo seu eleitorado ou jogando o país em uma nova aventura (Dilma conseguiu fazer as duas coisas), que será difícil de suportar. Isso gerará muita insatisfação, cujas consequências são difíceis de prever. Por isso, há a redução verificada nas expectativas de crescimento para este ano. Se as perspectivas eleitorais continuarem como estão, podemos ter novas quedas de crescimento, tanto efetivo como em suas expectativas.

Essa postura dos candidatos viáveis mostra que o Brasil tem um problema sério de maturidade política. A população prefere acreditar em bruxaria (conjunto de políticas que não darão os resultados que se diz que vão acontecer) e ser enganada por candidatos que defendem o infactível, a escolher candidatos responsáveis. Ao serem questionados sobre os reais problemas do país e sua posição em relação àquilo que já se sabe tem que ser feito, os candidatos simplesmente tergiversam e evitam o desgaste com grupos organizados, sendo os funcionários públicos de alto escalão o mais forte deles. Esses não aceitam a reforma da Previdência e insistem em manter os seus privilégios adquiridos, o que incluem também pouca dedicação ao trabalho e compromisso com servir a sociedade. Eles acham que a sociedade é que existe para servi-los. Os produtores rurais, outro segmento social muito organizado, por sua vez, insistem em não pagar percentual maior de sua renda em impostos e previdência, permanecendo com contribuições tão baixas.
Ou seja, não se consegue um acordo social e os candidatos não possuem a firmeza necessária para apresentarem soluções que possam realmente resolver os problemas fiscais do país.

Essas incertezas e falta de um projeto consistente que seja discutido com a população, para que ela possa fazer suas escolhas, tem elevado os riscos associados aos investimentos e ao consumo no país. Isso estende a atual crise mais do que seria necessária. Se a nossa população tivesse a maturidade que precisa para fazer suas escolhas, mesmo que difíceis, poderíamos acelerar o fim da crise. Para isso, precisamos de lideranças e liderados com perfil diferente do que nosso contexto histórico está nos proporcionando.

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